O site da revista Veja na internet informa que três de seus jornalistas sofreram "abusos, constrangimentos e ameaças em um claro e inaceitável ataque à liberdade de expressão garantida na Constituição" durante depoimento nesta terça-feira (31), na Polícia Federal de São Paulo.
Segundo a revista, "a pretexto de obter informações para uma investigação interna da corregedoria sobre delitos funcionais de seus agentes e delegados", a PF intimou cinco jornalistas a prestar depoimentos. Todos eram responsáveis pela apuração de reportagens que relataram o envolvimento de policiais em uma "operação abafa" destinada a afastar Freud Godoy, assessor da presidência da República, da tentativa de compra do dossiê Vedoin.
Desses jornalistas intimados, o delegado Moysés Eduardo Ferreira ouviu nesta terça-feira Júlia Duailibi, Camila Pereira e Marcelo Carneiro. Segundo os jornalistas, a inquirição se deu não na qualidade de testemunhas, mas de suspeitos. "As perguntas giraram em torno da própria revista que, por sua vez, pareceu aos repórteres ser ela sim, o objeto da investigação policial", diz o texto. Segundo a Veja, não houve violência física, mas o relato dos repórteres deixa claro que foram cometidos abusos, constrangimentos e ameaças.
A revista cita vários momentos de constrangimento enfrentados pela jornalista Julia Duailibi durante o depoimento, como perguntas sobre os motivos pelos quais ela escrevera "essa falácia" e acusações da revista para "fabricar" notícias contra a Polícia Federal.
Testemunhas
Embora os repórteres da Veja tenham sido convocados como testemunhas, eles não puderam se consultar com a advogada que os acompanhava, Ana Dutra. Segundo a revista, "todo e qualquer aparte de Ana Dutra era considerado pelo delegado Ferreira como uma intervenção indevida" e, em determinado momento, Ferreira ameaçou transformar a advogada em depoente.
Também foi negado aos jornalistas o direito a cópias de suas próprias declarações. O delegado teria alegado que tais depoimentos eram sigilosos. A repórter Júlia Duailibi também teria sido impedida de conversar com o repórter Marcelo Carneiro.
Segundo a nota da, "a estranheza dos fatos é potencializada pela crescente hostilidade ideológica aos meios de comunicação independentes, pelas agressões de militantes pagos pelo governo contra jornalistas em exercício de suas funções e, em especial, pela leniência com que esses fatos foram tratados pelas autoridades".