Reveillon de Oliveira rides again

Tive a impressão que era ele e era. Com os três botões do paletó abotoados, mãos nos bolsos, estático e atento como um urubu, estava na frente de um sanfoneiro na Boca ouvindo mesmerizado a valsa Branca, de Zequinha de Abreu puxada pelo instrumento. Vi quando tirou do bolso uma nota de real e colocou na caixinha do velho, homenageando-o pelo prazer concedido na execução da música.

Voltou-se e me viu:

– Oi! continuava com as mãos nos bolsos.

Foi chegando e lhe perguntei o que achara da última eleição. Não titubeou na resposta:

– Olha, francamente, acho que o jornalista Joel Silveira, com seus 81 anos, está certo: o Brasil é uma farsa.

Estranhei a estocada tão direta e redargui:

– Por quê? Tá azedo, hein?

– É sim. O brasileiro tem obrigação de votar, vivem lhe enchendo o saco de que o voto é uma arma democrática, que a Democracia é um sistema de governo do povo, para o povo e pelo povo, que o voto pode mudar trocando os homens nos seus cargos ou reelegendo os mais qualificados e tal. Não acredito.

E continuou, depois de acender um cigarro com um isqueirinho que já estava falhando:

– O eleitor brasileiro não tem consciência do valor do voto. Joga muito voto no lixo, não avalia as qualidades do candidato, não reconhece serviços prestados, competência, trabalho, caráter, verticalidade de esforços. Vota neste ou naquele de olho num empreguinho, um jabaculê, algum tipo de favor, uma sinecura que seja. Vota na expectativa de que o voto lhe renda um troquinho qualquer.

Chupitou o cigarro e prosseguiu:

– Veja você o que ocorreu por aí. Em Curitiba, elegem uma bondosa senhora de vila, um ex-jogador de futebol padeiro e trazem de volta um safado que já curtiu cana e teve o mandato cassado por ações criminosas. Em Campo Largo, elegeram uma catadora de latinha e, em Rio Negro, um gari que gastou 10,00 na campanha.

Lembro a Reveillon que o Rio de Janeiro já elegeu vereador o macaco “Tião”, em São Paulo foi eleito o rinoceronte “Cacareco” e, no Recife, o bode “Cheiroso”. Então, não é só no Paraná que ocorrem essas excrescências eleitoreiras:

– Eu sei… cuspinha de lado Isso é coisa de eleitor brasileiro, jogar o voto no lixo. Agora, acompanhe meu raciocínio, se é que tenho algum: como se comportará essa ingênua, inexperiente e canhestra escumalha de urna diante de estaturas legislativas do porte de um Ney Leprevost e seus 18.582 votos, de um João Cláudio Derosso, um Jorge Bernardi ou um Mario Celso Cunha? Hein, me diga. Sem contar mais um ou outro !

Percebo que Reveillon está falando pelo fígado, amargo e cheio de fel:

– Engraçado, veja você, é que na eleição de prefeitos alguma coisa mudou. Lá em Foz do Iguaçu, por exemplo, o eleitorado mandou às favas o pimpolho do Dobrandino que, aliás, nem tinha estatura para o cargo de Prefeito de uma cidade triplamente fronteiriça, com Cataratas e Itaipu ali do lado. Em compensação, lá na heráldica e tradicional Jacarezinho o eleitor brincou e, por desfastio, elegeu uma menina de 25 anos que vai virar bonequinha nas garras dos tigres e leões políticos locais.

Prossegue Reveillon, alterado:

– Olha só: lá em Platina (Santo Antônio, pediu demissão porque trouxeram o Zé Ritti de volta para a prefeitura), coisas estranhas acontecem. Informações veiculadas pela Infernet adiantam que Lúcifer está preparando uma delegação de capetas especializados em administração pública e vai enviá-los para Platina. Quer que a sucursal de seu Inferno, desta vez, o Ritti monte de acordo com os padrões do Averno.

Lembro-me de perguntar:

– E se ele não conseguir?

– Vai conseguir, sim… alfineta Reveillon E vai ter muito companheiro nesses lances, reeleitos e eleitos, afinal só no Paraná são 399, mas faço uma exceção: é o Ary Stroher, reeleito em Mandaguari. Aquele galego é o pai da dignidade executiva, foi funcionário da SEAB durante anos.

Reveillon resolve me fazer uma pergunta:

– E você, o que achou da eleição?

Saio pela tangente:

– Não achei nada. Ainda estou procurando….

Wilson Silva

(jornalista e escritor).

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