A última versão do publicitário mineiro Marcos Valério e do tesoureiro licenciado do PT, Delúbio Soares, sobre a movimentação de dinheiro emprestado ao Partido dos Trabalhadores, está mais furada que peneira. Em entrevista à televisão, Marcos Valério abandonou a versão de que fora avalista de um ou dois empréstimos bancários relativamente pequenos para o PT. A nova versão é que do Banco Rural, do Banco de Minas Gerais, do Banco do Brasil e, quem sabe, também de outras instituições financeiras, Valério conseguiu dinheiro num montante da ordem de R$ 40 milhões. Esses empréstimos hoje representam uma dívida de cerca de R$ 90 milhões e há quem a calcule em algo como R$ 160 milhões.
O PT está falido, declarou moratória através de sua nova direção e não sabe ainda como é que vai pagar os empréstimos. Mas Marcos Valério e, no dia seguinte, Delúbio Soares, vieram com a versão de que os empréstimos eram tomados nos bancos pelas empresas do publicitário mineiro e repassados ao PT e a pessoas indicadas pelo então tesoureiro Delúbio. Serviam para financiamento de campanhas eleitorais de candidatos do PT e de partidos aliados. Só Lula nunca teria visto a cor do dinheiro, além de ignorar totalmente a manobra do caixa 2 mantido por seu partido, como confessou publicamente o ex-tesoureiro.
José Genoino e os demais dirigentes do PT sabiam do caixa 2 formado com os empréstimos. A operação seria a seguinte: os bancos emprestavam às empresas de Marcos Valério, que mantinha um contrato particular com Delúbio para mandar o dinheiro a quem este indicasse. Nenhum nome de beneficiário foi revelado. Apenas a versão de que Lula nada recebeu para sua campanha, pois não precisava de dinheiro. E José Dirceu também ignorava o assunto.
Indagado sobre qual a razão de um empresário endividar suas empresas para dar dinheiro ao PT, Delúbio apresentou a absurda versão de que isso era feito porque Valério queria ter o Partido dos Trabalhadores como seu cliente cativo. Aí, pergunta-se: quem iria endividar-se tanto em bancos para garantir uma conta publicitária de um partido falido? A menos que o PT tivesse alguma rica mina de ouro ou fontes inesgotáveis de dinheiro para sacar no futuro, ninguém faria um negócio desses.
A versão dos empréstimos para custear campanhas políticas de petistas e aliados parece uma manobra combinada para desmentir a existência do mensalão. Difícil obter esse resultado, mas se for verdade o que acabam de declarar Marcos Valério e Delúbio Soares, o PT fez campanhas com caixa 2, ou seja, de forma ilegal. E quem foi eleito com dinheiro de caixa 2 pode e deve ter o seu mandato cassado. Numa outra interpretação, o próprio PT, cuja direção admite o caixa paralelo, funcionou e funciona na ilegalidade. E ninguém eleito pelo partido tem mandato legítimo.
Recordemo-nos de que, em Curitiba, buscou-se a cassação do mandato do prefeito Cassio Taniguchi porque teria um caixa 2 no financiamento de sua campanha. Salvou-se pela demora do processo. E foi o PT que questionou o mandato do prefeito.