Investigadores da Polícia Federal (PF) que se debruçam sobre o dossiê atribuído a Daniel Dantas – que reúne dados sobre supostas contas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e outras autoridades no exterior – não gostaram de saber que o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, encontrou-se secretamente com o banqueiro na noite da última quarta-feira, em Brasília.
Segundo policiais federais, o encontro – revelado pela revista Veja – emite sinais contraditórios justamente às vésperas do depoimento de Dantas à PF, previsto para esta semana, para esclarecer a autenticidade da documentação e o envolvimento do banqueiro na confecção dos extratos bancários.
O encontro levanta, ainda, a suspeita sobre um pacto de não agressão entre governo e banqueiro que pode repercutir nas investigações. Na quinta-feira passada, o Estado publicou reportagem sobre a negociação do Planalto com Dantas com vistas a silenciar o banqueiro. Na entrevista, ele disse que a PF queria mordê-lo (prendê-lo) e mostrou-se disposto a negociar. O temor de integrantes da PF – que está subordinada a Bastos – é que a investigação seja abafada ou levada em fogo brando.
A reunião entre Dantas e Bastos ocorreu na casa do senador Heráclito Fortes (PFL-PI), apontado como defensor do banqueiro nas CPIs dos Correios e dos Bingos. Também estiveram presentes os deputados Sigmaringa Seixas (PT-DF) e José Eduardo Martins Cardozo (PT-SP), conhecidos como integrantes do quadro de juristas da bancada. As assessorias de Bastos e Dantas negaram a existência de qualquer acordo. O encontro teria sido agendado para que o banqueiro dissesse que não encomendou o dossiê, supostamente feito por um ex-agente da Kroll, multinacional que atua na área de investigação.
Na PF, existe um grupo que deseja mergulhar nas investigações contra Dantas. São policiais que apuraram o caso Kroll (suposta ação ilegal contra autoridades brasileiras realizadas a soldo da Brasil Telecom, então comandada por Dantas). O banqueiro foi denunciado por corrupção ativa, quebra ilegal de sigilo telefônico, violação de sigilo bancário e formação de quadrilha à Justiça Federal. Se for condenado, ele pode ser condenado a nove anos de prisão.