Depois da torrente de análises e comentários sobre a crise da aviação comercial brasileira e, em especial, sobre a tragédia do Airbus A320 da TAM e as duas centenas de mortes hoje completando oito dias, mesmo sob o risco de cometer um truísmo de péssimo gosto, é pertinente afirmar em sã consciência que o governo somente despertou para a enormidade do caos aéreo ao ser convocado a prestar contas e compartilhar – se isso é possível – a dor irreparável das duzentas famílias que perderam seus entes queridos no acidente.
Especialistas em aviação são unânimes em apontar na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) um foco de ineficiência, tendo em vista a ineludível falta de vivência e formação técnica dos dirigentes indicados pelo governo para zelar por uma atividade de tamanha complexidade.
O presidente da Anac, Milton Zuanazzi, é ex-secretário estadual de Turismo do Rio Grande do Sul, e os diretores mais importantes são um ex-deputado estadual da Bahia e uma ex-assessora de José Dirceu, na época em que este chefiava a Casa Civil da Presidência da República.
Por mais respeito que mereçam os cidadãos em foco, é impossível admitir que estivessem plenamente aptos para assumir uma função que requer, acima de qualquer outra especificação, o amplo embasamento técnico que lhes propiciasse condições mínimas de dialogar, em pé de igualdade, com os demais agentes envolvidos no meio.
Para tornar ainda mais gravoso o vesgo costume de nomear apaniguados para cargos importantes na estrutura do serviço público, uma das heranças do ultrapassado estilo paroquiano de fazer política, prática de uso consagrado como nunca antes na história deste País, sequer se levou em consideração a irresponsabilidade de entregar determinadas funções a pessoas sem a qualificação técnica exigida.
Não fosse pouco, o próprio governo tem tratado as agências reguladoras criadas após o programa de privatização, entre elas a Anac, com um desprezo acintoso, ao contingenciar parte dos recursos orçamentários que acabam solapando a operação dos organismos de controle e fiscalização, tornando-os falhos e impotentes para o cumprimento de suas obrigações elementares.