Retórica incompreensível

É difícil compreender a retórica usada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, especialmente quando se refere a pormenores da complexa política econômica de sua administração. Para os leigos, mesmo havendo diferenças entre uma coisa e outra, é complicado entender quando o mesmo governo reclama não poder gastar após o prazo estipulado pela legislação em ano eleitoral, mas autoriza o corte de R$ 14,2 bilhões em despesas orçamentárias, além do bloqueio adicional preventivo de mais R$ 5,6 bilhões, fazendo com que o superávit primário possa bater em 4,5% do PIB.

Há alguns dias o presidente, discursando a prefeitos, pautou sua estratégica discordância – alguns viram soberba carga de demagogia – ante uma legislação que apodou de proibitiva. A arenga se referia à proibição do governo iniciar novos projetos dentro do prazo eleitoral, chegando ao cúmulo de reconhecer que o dinheiro existe, mas fica mofando no Tesouro, impedindo as administrações federal e estaduais de ajudarem os prefeitos, que sequer terão de disputar eleições em outubro.

Ora, se o presidente confirma que dinheiro há, e vai mofar nos cofres da União, deveria informar também as razões elementares que o fizeram esquecer a verdade acaciana. Por que deixou passar tanto tempo, até as vésperas do período em que os investimentos públicos são vedados exatamente para restringir a onipresente manipulação eleitoreira, para dizer que o dinheiro está sobrando?

Tivesse o País governo comprometido com os verdadeiros anseios da sociedade, atento ao cumprimento dos deveres com a população que lhe dá respaldo financeiro, quase sempre sem receber a contrapartida em projetos sociais e de infra-estrutura, não se ouviria falar em cortes de despesas orçamentárias votadas a ferro e fogo pelo Congresso Nacional, sob a acusação de leniência e manobras escusas para dificultar a ação governamental.

Caso o Orçamento da União e das demais esferas da administração fossem tratados não como peças de ficção, o contribuinte não sofreria o agravo de trafegar pelas rodovias que infelizmente temos, não mofaria nas filas do SUS, teria vagas para os filhos em boas escolas públicas de todos os níveis, bons serviços de segurança e acesso ao emprego, para ficar na extremidade da problemática que todos conhecemos. Nem os prefeitos, o desprazer de ouvir essa conversa pra boi dormir…

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