Mais uma vez debateram, na televisão, os principais candidatos à Presidência da República. À Record, compareceram Lula, Serra, Ciro e Garotinho, os únicos de expressão entre os muitos que estão registrados na Justiça Eleitoral como pretendentes à sucessão presidencial. Mediado por Bóris Casoy, sem dúvida um bom profissional, o debate público foi de improviso. Mas de improviso não foram suas regras, aliás estabelecidas com rigor. Só ao mediador cabia alguma liberdade, mas ainda assim limitada pelos entendimentos havidos previamente, em nome dos candidatos, entre seus assessores. Tempo escasso para perguntas, limitação na escolha dos indagados. Tempo também escasso para as respostas e mínimo para réplicas e tréplicas. O próprio mediador reconheceu, em entrevista posterior ao debate, que foi engessado pelo tempo. Os candidatos não tinham tempo para pensar no que diziam nem para dizer o que pensavam.
A técnica dos candidatos oposicionistas foi, ao fazerem indagações entre si, provocarem ataques contra o governo e, portanto, contra o candidato situacionista José Serra. Enquanto Serra ficava em posição indesejada, Lula aproveitava sua condição de primeiro lugar nas pesquisas para evitar ataques diretos aos contendores. Foi o mais “light” dos debatedores. Aliás, em 17 de julho, em entrevista à Folha Online, Luiz Inácio Lula da Silva já dizia que não estava atacando os adversários por “estilo de fazer política”. É a sua estratégia.
Não se furtou, entretanto, a atacar o governo, forma indireta de atacar Serra que, por todos os contendores, foi desde logo identificado como representante situacionista.
O ponto alto foi a troca de acusações entre Serra e Ciro, aquele alegando que este mente e ofende até os eleitores. E este afirmando, sem provar, que tais defeitos são próprios do candidato situacionista. Garotinho, como sempre, fez o seu carnaval. Descompromissado, como confessa, nem compromissos com a seriedade demonstrou. Não hesitou em usar demagogia nas perguntas e nas respostas, buscando sempre frases de efeito e fazendo perguntas irrespondíveis pela inconsistência de sua formulação e pela escassez de tempo para o perguntado tentar respondê-las. Como foi um programa de debates em que o mais atacado foi o governo, este pretende, via judicial, obter tempo nos programas do TSE para responder. Serra não tomou a si, de todo, essa obrigação, embora em nenhuma ocasião negasse sua condição de candidato situacionista.
Os candidatos usaram e abusaram de informações embasadas em números e documentos nunca comprovados. Aliás, parece que nas regras do debate a exibição de documentos não era permitida. Quem ganhou e quem perdeu no confronto? Temos a impressão de que ninguém perdeu e a convicção de que quem ganhou foi o povo, que teve a oportunidade de melhor conhecer os candidatos ao trono. Nas poucas vezes em que os debatedores se referiram, com alguma fundamentação, aos problemas nacionais e suas soluções, disseram a mesma coisa. Mas, na maior parte do tempo, o debate sobre os problemas nacionais e suas soluções foram prejudicados pela demagogia, pelo desejo de “exposição de sua própria figura” e pela exiguidade de tempo concedido a cada debatedor. Aliás, essa limitação se fazia necessária, pois se assim Bóris Casoy não estabelecesse a ordem do debate, até hoje estaríamos ouvindo bobagens em tom de coisas sérias. Ou coisas sérias em tom de bobagens.