Restolhos do compadrismo

Mais um elo se desprendeu da frágil corrente programática do PMDB, hoje uma ilegível garatuja do que já representou para a política brasileira a força ideológica do partido. É verdade que haverá bem poucos correligionários de plantão no partido-ônibus, por esses dias exibindo incrível semelhança com um balcão de negócios, para lamentar a desfiliação de um quadro histórico e fundador do MDB de guerra, o economista Carlos Lessa. No Paraná, a notória diminuição do índice de qualidade do remanescente peemedebista deu-se com a saída do ex-governador Paulo Pimentel.

Inconformado com o reducionismo imposto pela ala governista aos postulados do programa partidário, entre eles a disputa de eleições presidenciais com candidato próprio, Lessa resolveu retirar-se. Há alguns meses fora convocado pelo presidente da executiva nacional, deputado Michel Temer (SP), sob chancela dos governadores Germano Rigotto, Luiz Henrique da Silveira e Roberto Requião, além do ex-governador Orestes Quércia e muitos outros, para escrever um programa que fosse o alicerce do lançamento da candidatura e, ao mesmo tempo, fornecesse elementos para a ampla discussão dos principais problemas sociais, políticos e econômicos da nação.

O projeto foi lançado em Curitiba, sob os auspícios do PMDB paranaense, num grande encontro convocado pelo governador Roberto Requião, com maciça participação dos governadores comprometidos com a tese da candidatura própria. O plano prosseguiu em uma ou duas capitais, mas acabou soterrado pelo movimento contrário dos componentes de um ?PMDB que não é o meu?, conforme a melancólica conclusão do ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) nos primeiros meses do atual governo, cargo do qual foi também apeado pelo destemor das críticas formuladas aos desvios da política econômica que então prenunciava.

Ninguém duvida que os rumos do PMDB são definidos pelo restrito grupo formado pelos senadores José Sarney, Renan Calheiros, Ney Suassuna e o deputado federal Jader Barbalho, caciques da chamada banda governista, inimiga da candidatura própria à Presidência da República. Nos últimos dias despontou novo integrante do grupo na pessoa do ministro Hélio Costa, refestelado na versão capciosa da máxima de são Francisco (é dando que se recebe), graças à nomeação do presidente e três diretores da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), lá encarapitados pela conspícua intervenção de um companheiro que não brinca em serviço.

O vetusto soba Sarney, uma das figuras mais arcaicas da politicalha que nos envergonha perante o mundo civilizado, pronunciou dia desses na tribuna do Senado rebarbativos elogios ao presidente Luiz Inácio, muito embora tivesse jurado inocência quanto às nomeações dos Correios, ao ser questionado por repórteres curiosos em confirmar se a retribuição do Planalto ao não-lançamento da candidatura do PMDB estava em curso.

Apesar do diligente esforço feito por tantos patriotas, ainda não desfrutamos o privilégio de ver banidos da vida pública os empedernidos restolhos do compadrismo, dos privilégios e favores concedidos aos amigos do peito, mesmo que só tenham se achegado na véspera. Esse mal está encravado nos meios políticos de um País ainda de costas para a fundação de valores igualitários, imperecíveis e, em tudo, imunes à ação dos cupins morais que corroem a estrutura democrática.

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