Respeito à diversidade

A ONU – Organização das Nações Unidas vem enfraquecendo nos últimos anos e o principal culpado disso é o país responsável maior por sua manutenção: os Estados Unidos. No governo Bush, as tropas norte-americanas e aliadas, estas mais fazendo figuração que oferecendo substancial participação, invadiram o Afeganistão e o Iraque. Já se passaram três anos e tais guerras injustificáveis ou mal justificadas não terminaram. Ocorre uma evidente derrota dos Estados Unidos, que caiu numa armadilha semelhante à que o pegou no Vietnã, de onde saiu humilhado.

Tanto a guerra do Afeganistão quanto a contra o Iraque foram ações unilaterais dos Estados Unidos sem a aprovação e até contra as ordens da ONU. Tal fato enfraqueceu aquele que é o maior e mais importante organismo internacional e cuja preservação deve interessar a todo o mundo, inclusive aos países pobres da África, Ásia e América Latina, para os quais a organização sempre tem voltado seus olhos em busca ou na oferta de auxílios.

Ainda agora o ex-ministro da economia da Turquia, Kemal Dervis, cumpre uma missão da ONU percorrendo os países latino-americanos e do Caribe, estudando-os para verificar quais as melhores maneiras de ajudá-los. E, desde logo, já descobriu que o essencial é que os Estados Unidos da América, como a força política, militar e econômica deles mais próxima, respeite sua diversidade.

Na verdade há semelhanças, mas também profundas e visíveis dessemelhanças entre os países latino-americanos. Elas não se limitam à duplicidade de línguas, o Brasil falando o português e os demais, a língua espanhola. Nem são de nível de desenvolvimento econômico ou regime político iguais. Dos dois pontos de vista houve, nas últimas décadas, mudanças apreciáveis, o desenvolvimento econômico privilegiando mais alguns países como o Chile, o Brasil, a Argentina, só para se referir a alguns. E o desaparecimento das tradicionais ditaduras latino-americanas que, mais recentemente, parece estarem ressurgindo. Estas diferem das anteriores, pois enquanto aquelas em geral eram de direita, as que agora nascem são de esquerda e confrontam-se abertamente com os Estados Unidos, seu poder e pretensões de liderança.

A formação de grupos regionais, inclusive o Mercosul, pareciam uma esperança de aproximação e busca de similitudes entre os países latino-americanos. Infelizmente esse caminho tem encontrado mais óbices que facilidades. De qualquer forma, a advertência do enviado da ONU é válida, pois sabidamente os norte-americanos costumam confundir não só geograficamente, mas também histórica, política e economicamente os países desta parte das Américas. Há diferenças essenciais, por exemplo, entre um Chile em bom ritmo de desenvolvimento econômico, uma Costa Rica politicamente desenvolvida e um fator comum a todos esses países: a persistência de uma larga camada da população em estado de pobreza.

A política norte-americana para com a América Latina e os auxílios coordenados pela ONU precisam levar em conta essas diferenças e, ao fazê-lo, encontrar os caminhos corretos para a promoção do desenvolvimento e a diminuição e um dia o desaparecimento do mal comum: a persistência da pobreza. Que não errem os Estados Unidos nem se omita a ONU em questões com a América Latina, como erraram em relação ao Afeganistão e principalmente ao Iraque. O surgimento de um Hugo Chávez e um Morales por aqui não justifica uma visão errônea e, muito menos, uma política intervencionista equivocada.

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