No governo Lula, resistir é preciso. Não porque se trate de uma administração mal-intencionada, mas em razão de que, por inexperiência ou cultura partidária, a equipe liderada pelo PT está habituada à imposição. Imposição que cheira a autoritarismo. E isso não é bom em nenhuma circunstância. Tanto mais quando se trata de um governo de homens inexperientes, com frágil e improvisada base parlamentar, que conta apenas com indiscutíveis bons propósitos.
O que vimos até aqui, já ultrapassados mais de um ano e meio de governo, foi o entesouramento para pagar as dívidas públicas. Produção de superávites primários superiores aos do governo FHC, que os então oposicionistas consideravam altos e prejudiciais ao desenvolvimento do Brasil. Chegaram a insistir numa moratória.
Também há uma tendência de aumento da carga tributária. A cada necessidade nova ou que se avoluma, o governo procura socorrer-se com aumentos de tributos, taxas e contribuições e economia, até mesmo nas verbas regulares do orçamento. Do dinheiro que a lei de meios lhe propicia, gastou até agora apenas uns 20%. Não houve resistência suficiente ao apetite governamental e às diretrizes que até agora dá à condução das finanças públicas. Lula conseguiu dobrar o Congresso, seja pelo convencimento, seja pela negociação, quando sempre funciona o toma cá, dá lá. Isso também ocorria nos governos passados.
Quando surgiu a obrigatoriedade de pagar débitos atrasados com aposentados, o governo buscou a solução no aumento das contribuições previdenciárias dos empregadores. A grita foi geral e, em 24 horas, o governo teve de recuar. Uma prova contundente de que, para melhorar o governo Lula, até colaborando com ele, é preciso resistir. Resistir aos seus ímpetos e às soluções e idéias apressadas, mal-embasadas e não raro impraticáveis.
A carga tributária brasileira vinha batendo recordes sobre recordes. Talvez tenha chegado à posição de primeiro lugar, a mais alta em todo o mundo.
Agora, por haver forte resistência da nação, o governo começa a recuar. Já anuncia que acabou o período da sanha fiscal. Há motivos políticos ditando esse novo e mais saudável comportamento. Um deles, que não pode ser desprezado, é a proximidade de eleições. O Brasil inteiro estava protestando e esse protesto poderia se traduzir nas urnas. Chega de tirar dinheiro do povo e das empresas, em especial quando não se verificam retornos visíveis e palpáveis.
Significativa, se bem que ainda um pouco ausente do noticiário, foi a formação de um bloco no Senado Federal de boicote às iniciativas impositivas do governo Lula. Um grupo de senadores do próprio PT uniu-se a parlamentares da oposição para formar o que denominaram o “bloco do diálogo”. O objetivo é ganhar força com o propósito de tentar boicotar projetos de interesse do Planalto não merecedores das bênçãos do Congresso e aplausos do povo. O grupo suprapartidário é formado por doze senadores, dentre eles cinco do PT. A ala inclui Cristóvam Buarque (ex-ministro de Lula), Serys Sihessanrenko, Flávio Arns (do Paraná), Roberto Saturnino e o vice-presidente do Senado, Paulo Paim. Esse grupo faz reuniões semanais e aproxima-se dos que, na Câmara, também estão dispostos a resistir às arrogâncias do governo
Isso é bom, pois obriga o Planalto a pensar e pesar melhor suas iniciativas, não mais acreditando que tudo pode, mesmo quando os fatos mostram que nada pode fazer em favor da nação.