Às 20h20 do quinto dia de buscas na cratera aberta no canteiro de obras do metrô em Pinheiros, foi resgatado ontem (16) o corpo da advogada Valéria Alves Marmit, de 37 anos. Ela estava no microônibus sugado na Rua Capri, que foi parar na boca do túnel entre as Estações Pinheiros e Faria Lima.
Peritos colheram as impressões digitais da vítima ainda antes do resgate, o que permitiu a rápida identificação. Do outro lado da cratera, perto da Marginal do Pinheiros, cadelas farejadoras do Corpo de Bombeiros localizaram outro corpo, provavelmente o do caminhoneiro Francisco Sabino Torres, de 44 anos, funcionário da obra.
Um dos motivos que dificultaram a operação de remoção do corpo da advogada foi o fato de as pernas da passageira terem ficado presas sob o banco da van. O Estado teve acesso a fotos da operação, mas decidiu não publicá-las.
Os bombeiros não conseguiram, por falta de segurança, trabalhar no resgate da outra vítima. O cunhado do motorista, Antonio Sabino, ficou indignado. ?Queria que alguém fosse cavar onde o Francisco está, tirar ele de lá.
Os parentes de possíveis vítimas já tinham reagido ao anúncio de que o resgate ficaria suspensas por três ou quatro dias, feito à 0h40 de ontem pelo Consórcio Via Amarela, responsável pelas obras. As famílias esperavam que o trabalho fosse acelerado depois da localização, às 14 horas de anteontem, do primeiro corpo de vítima – o de Abigail Azevedo, de 75 anos, resgatado na segunda-feira. Às 10h50 de ontem, porém, os trabalhos foram retomados. ?Injetamos concreto na parte frontal acima do microônibus para evitar novos deslizamentos?, disse o representante do consórcio, Márcio Pellegrino.
Os parentes dos outros desaparecidos admitiram ter perdido as esperanças de encontrar alguém vivo. Era o caso de Priscila Moura Leite, filha do motorista da van, Reinaldo Leite. ?Agora só aguardamos o corpo para ter um enterro digno.
Mulher do cobrador Wescley Adriano da Silva, Thaís Ferreira Gomes, grávida de 8 meses, precisou de atendimento médico de madrugada, mas à tarde já aguardava por notícias. ?Agora eu sei que ele está morto mesmo. Eu vou dizer para o meu filho que seu pai era um trabalhador e ele morreu trabalhando.? À tarde, os parentes das vítimas se reuniram com o promotor José Carlos Blat que os orientou sobre as medidas judiciais para requerer indenização.
Segundo geólogos, ainda há risco de novos desabamentos nos túneis em que trabalham os bombeiros – na direção da Rua Ferreira de Araújo e da Avenida Faria Lima. Cada avanço deve ser meticulosamente estudado para evitar novos acidentes, porque o túnel funciona como uma espécie de ralo de escombros e terra. ?Não acredito que haja mais risco às casas ao redor, mas o trabalho dos bombeiros é delicado, pois há avarias nos túneis?, afirmou o geólogo Cláudio Riccomini. O engenheiro Faiçal Massad, ex-presidente da Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica, disse que o talude (aclive formado pela terra na cratera) está muito íngreme e pode ser necessário parar as buscas.