Que não seja eleitoreira a promessa do ministro dos Transportes de plantão, João Henrique de Almeida Sousa: voltar ao Paraná dentro de um prazo máximo de noventa dias para inaugurar o Contorno Leste de Curitiba, obra tão importante quanto esperada para o desafogo do tráfego pesado do centro da cidade, que tanto atrapalha os giros urbanos cada vez mais congestionados quanto esgota a paciência dos viandantes de longo percurso em nossos labirintos encurralados.
A promessa foi feita no início da semana, no ato inaugural de outra obra do gênero – os 15 quilômetros que constituem a duplicação do Contorno Sul, ligando a BR-116 à BR-277, a Oeste de Curitiba. A obra, que consumiu pouco mais de vinte e quatro milhões de reais, fora iniciada no já distante 1996 e parecia não mais terminar, assim como também se alongam os prazos de sua continuidade a Leste, bem mais longa, com 45 quilômetros de extensão e de problemas.
O ministro procurou ser simpático e mostrar trabalho, trazendo à cena o governador do Estado, que, embora não seja candidato, se esforça para mostrar o lado bom de sua administração aos eleitores que haverão de eleger seu sucessor, não se sabe ainda quem. Talvez por falta de referências históricas, o ministro tropeçou noutra obra há tempo projetada que – a dizer o menos – parece estar assombrada por caveira de burro: a construção do contorno ferroviário, que tirará definitivamente da malha urbana de Curitiba os anacrônicos trens de pouco serviço e muito barulho. João Henrique não garantiu muito, mas disse que dentro de sessenta dias será realizada a licitação para a obra, que, conforme está orçada, consumirá cerca de oitenta milhões de reais, e deverá ser iniciada (ninguém garante quando será o término) ainda no decorrer deste ano da graça e da eleição presidencial.
Desviar a BR-116 e o que resta de uma malha ferroviária do centro de Curitiba é coisa que vem produzindo discurso há bem mais de trinta anos. Enquanto em outras capitais, seja em São Paulo ou em Santa Catarina, apenas para ficar entre vizinhos, obras viárias importantes acontecem, aqui governos comportados e sem força reivindicante (tanto municipal quanto estadual) não perceberam que estamos perdendo o bonde da história. Quando se anuncia a entrega de contornos em pedaços (afinal, de três lotes ainda em execução no Contorno Leste, apenas dois estão na pauta das inaugurações), a cidade que inchou para todos os lados está a exigir já a duplicação do que ainda não ficou pronto.
A timidez viária do Paraná, aliás, não é de agora. Constituímos o único Estado litorâneo sem BR-101. Em compensação, a Estrada da Ribeira, nosso antigo caminho de quinta comarca, está ainda há 54 quilômetros da divisa com São Paulo e a mais de vinte e três milhões de reais para ser inaugurada. E para que conseguíssemos andar por outras estradas federais aqui existentes, fomos forçados a um programa de estadualização-privatização do que já estava sucateado. Hoje pagamos pedágio, sob contestação judicial, para andar em pistas simples, únicos caminhos remendados sobre históricos traçados de tropeiros dos tempos imperiais. Em suas repromessas, o ministro Henrique Sousa poderia, pelo menos, explicar quando vai terminar, enfim, a novela de todo o Contorno Leste.