A manifestação, marcada para as 21 horas, teve como “inspiração”, a repressão por parte da cavalaria policial à uma jovem mapuche, que tomava banho nua nos chuveiros do Acampamento – os policiais forçaram-a a retirar-se do local e a vestir-se, desrespeitando assim a diversidade cultural presente em Porto Alegre.
Insatisfeitos com o ocorrido, as pessoas marcaram um ato para ser realizado no período da noite, protestando contra a repressão que vem rondando o FSM ultimamente, e a favor do direito de ir e vir, garantido pela Constituição.
Após passarem pelos chuveiros centrais e tomarem banho nus dentro do Acampamento, os manifestantes dirigiram-se à Avenida Beira-Rio, aonde o Batalhão de Choque e a Cavalaria os cercaram.
Veja o relato da jornalista Juliana Andrade:
“Policiais do 4.º Regimento da Polícia Militar de Porto Alegre agrediram com espadas, cacetetes, cavalos, murros e chutes dezenas de pessoas, que estavam entre o Acampamento da Juventude e o Anfiteatro Pôr-do-sol. Entre estes estavam profissionais de imprensa, comerciantes, crianças e manifestantes.
Nenhum dos policiais estavam identificados e o comandante da ação se negou a conversar com a imprensa, reforçando as ordens de repressão sobre quem tentasse se aproximar, inclusive jornalistas.
Tudo começou, quando hoje pela manhã, uma jovem indiana estava tomando banho no acampamento e foi obrigada pelos policiais a se retirar da área dos chuveiros centrais e vestir-se. De acordo com os valores da jovem, não é crime, inclusive em sua cidade, banhar-se nua em público.
O fato serviu para desencadear uma manifestação, na qual, pessoas protestavam pela liberdade de ir e vir e contra a repressão, que vem sendo severa nos últimos dias do III Fórum Social Mundial, principalmente nas tividades direcionadas a Juventude.
Então por volta de 21h, dezenas de manifestantes foram até os chuveiros centrais e banharam-se nus. Depois, continuaram uma marcha pacífica com malabares e palavras de ordem como: “Pelados, sim, Alca, não!” até o Anfiteatro Pôr-do Sol.
Quando já seguiam de volta ao Acampamento da Juventude (mais uma vez pacificamente), foram surpreendidos por policiais que fecharam a rua pela frente, com a cavalaria, e por trás com o batalhão de choque.
O primeiro ato foi algemarem um manifestante jovem , negro, que se quer pode argumentar, nem mesmo se identificar. O segundo ato foi a agressão física das dezenas de pessoas, que passavam ou trabalhavam na área da “intervenção” policial.
Três policiais chutaram fervorosamente uma pequena menina que vendia churrasco. Um jornalista foi pisoteado pelos cavalos da polícia. Eu, profissional da imprensa alternativa (ou seja, estava trabalhando) fui agredida com uma cacetada, claro, pelas costas, um manifestante teve a orelha cortada por uma espada da polícia.
Pessoas ensagüentadas, vários feridos, comerciantes que tiveram suas barracas detruídas, se reuniram após a operação, na busca de uma justificativa para tamanha violência.
O deputado federal dos partidos dos trabalhadores, Tarciso Zimmerman, explicou (após conversa particular, vista por todos do lado de fora do cordão de isolamento, que bloqueava a rua) que “estamos aqui para lutar contra o capitalismo norte- americano” e completou “nada justifica uma imbecilidade destas”.
Terminado o tumulto, provocado pelas autoridades, carros e motos da políca militar passaram pelo local em altíssima velocidade. O que poderia ocasionar atropelamentos, inclusive fatais, uma vez que a rua estava tomada por trabalhadores e particpantes deste Fórum Social Mundial.
Dirigi-me à Delegacia de Policia do 11º Batalhão de Polícia com intuito de registrar queixa por ter sido agredida enquanto trabalhava, por um policial não identificado. Além disso, pretendia apurar quantas pessoas haviam sido detidas e onde se localizava o 4.º regimento.O policial civil disfarçadamente se retirou do local e não retornou, impossibilitando assim o registro da ocorrência.
Até este momento, não se sabe ao todo quantas pessoas foram presas e feridas. Uma viatura seguiu com três pessoas detidas violentamente. Permanece a busca por estes presos e feridos. Ambulâncias atenderam o local por três vezes, transportando feridos, entre eles mulheres, jovens e crianças,a maioria transeuntes e trabalhadores desarmados.
Lamentável que em pleno ano 2003, apesar de um processo histórico e político, que não legitima estas prática violentas e covardes, elas cotidianamente permaneçam. Teremos mesmo acesso as informações? Ou este jovem, magro, negro, nu, inocente, assim como os outros, não será identificado e mais uma vez, dado como desaparecido. Numa atitude, que remete-nos há trinta anos, significando assim um retrocesso.”
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