Renúncia iminente

Pressionado pela oposição na Câmara Federal, leia-se PSDB e PFL, o deputado Severino Cavalcanti não pôde – como tencionava – adiar o envio do processo de cassação do mandato de José Dirceu Oliveira e Silva ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar. Especulava-se abertamente ontem nos corredores do Congresso quanto à possibilidade de renúncia iminente do ex-chefe da Casa Civil.

A situação de Dirceu agravou-se com o último depoimento de Marcos Valério, quando o publicitário confirmou com todas as letras que o então poderoso ministro estava ciente de tudo o que foi tratado com Delúbio Soares, a respeito dos empréstimos bancários para dar liquidez ao caixa nacional do Partido dos Trabalhadores.

Dirceu tem declarado que não é homem de claudicar perante as adversidades, ratificando que não pretende renunciar ao mandato de deputado federal. Diante disso, são quase certas a cassação e a inelegibilidade até 2013.

Para quem esperou a arrancada do País na direção duma política conseqüente de crescimento econômico e distribuição da renda, mercê da chegada do PT ao governo federal após 25 anos de sedimentação da plataforma política que o levou ao poder, o sentimento de perda e engano não tem precedentes.

Repetindo-se a história como farsa, respeitadas as diferenças, mas buscando na Revolução Francesa alguma luz para compreender o fenômeno brasileiro atual, dir-se-ia que o núcleo fundador do petismo foi escorraçado do centro de decisões por uma espécie de bastilha moral, simbolicamente decapitado pela ascensão do magote de incompetentes treinados e carreiristas fisiológicos.

Não se concebe, de outra forma, homem da formação política de José Dirceu, camarada de armas e rezador do catecismo de Fidel Castro, ser enredado pelo visgo de interesses antagônicos aos de seu partido, ludibriado por um traficante de milagres financeiros, aliás como fora pelo antigo assessor de confiança Waldomiro Diniz.

Na Revolução Francesa tomada pelo terror, escreveu o historiador Albert Soboul, o medo matou a esperança da grande massa de crentes na liberdade, igualdade e fraternidade. No Brasil, onde as coisas sempre ocorrem com proverbial atraso, acabamos de adentrar o nevoeiro que antecedeu o Dezoito Brumário?

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