Renúncia e escárnio

A renúncia do deputado Valdemar Costa Neto, presidente do Partido Liberal, ao seu mandato de deputado federal por São Paulo, é um escárnio. Mas não é o primeiro político brasileiro, detentor de mandato recebido nas urnas, que assim age para livrar-se da cassação de mandato por delitos ou quebra do decoro parlamentar. Antes dele outros usaram o mesmo recurso, que os livra da suspensão, por oito anos, dos seus direitos políticos, impedindo que venham a ser, nesse prazo, novamente candidatos. Escapam, assim, à merecida punição e, na legislatura seguinte, apresentam-se novamente ao eleitorado, com a maior cara de pau e, como se tivessem almas de anjo, merecendo os votos que desonraram anteriormente, a ponto de merecerem perder seu direito de representar o povo.

A renúncia significa confissão. Confessam a quebra da ética parlamentar e os delitos dos quais são acusados. Reconhecem-se culpados e certos de que, se forem submetidos a julgamento, serão punidos, mandados para fora do Congresso, das assembléias ou das câmaras municipais onde detinham mandatos. Entram com a renúncia com um habeas corpus que eles mesmo despacham em seu próprio favor.

No caso de Valdemar Costa Neto, presidente de um dos principais, senão o principal partido aliado de Lula, pois a ele é filiado o vice-presidente da República José Alencar, o fato é da maior relevância. Não o seria, apenas revelasse um comportamento pouco ético de um parlamentar, pois isso é corriqueiro na política brasileira. A relevância resulta do fato de o renunciante ser o primeiro detentor de mandato público a reconhecer o mensalão, ou algo mais polpudo que uma mesada, um grande jabaculê. E, na mesma oportunidade, foram revelados nomes de outros parlamentares, do PT e dos partidos da chamada base aliada, que também se aboletaram de dinheiro advindo de bancos, via operações suspeitas feitas por empresas do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, num esquema que visava abocanhar contratos e ganhar dinheiro fácil. Fácil, porque do povo.

Assim, é de se esperar que muitos outros acusados venham a seguir o mesmo caminho do ora renunciante, o que fará com que ao redor de Lula caiam, como numa fileira de dominós, um a um, muitos corruptos. Nem todos, pois sempre haverá algum esperto que saberá esconder seus delitos.

No PT, com mandatos partidários internos, já caíram do presidente ao tesoureiro e secretário-geral. Também caíram figuras proeminentes de estatais.

É um escárnio, pois a manobra da renúncia significa a confiança de que o povo pode ser tapeado de novo e de novo. Que o renunciante, escapando à punição da cassação, tem todas as chances de, numa nova e próxima eleição, voltar à Câmara ou ao Senado Federal. A memória do povo é curta ou há a intenção prévia de, em novas eleições, usarem os mesmos meios escusos com os quais conquistaram os mandatos que agora são levados a interromper. Oxalá os nossos eleitores marquem bem os nomes que estão sendo denunciados e provada sua responsabilidade por toda essa sujeira. E, ao invés de dar-lhes cadeiras no parlamento, tudo façam para que ocupem os postos que merecem. Um lugar numa cela de cadeia.

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