Renúncia é drible

Da produção nacional, que o governo diz ser extraordinária, o que aumenta mesmo é a descoberta de escândalos. A ação da Polícia Federal comprova esse fenômeno. Cada vez que prende uma turma de ladrões engravatados, o governo se gaba de que está pondo os ladrões na cadeia. E os indigitados fazem turismo na cadeia, pois ficam alguns dias e logo são soltos. Está pondo na cadeia ?os outros?, pois os da casa parecem intocáveis e sobra mais para que possam roubar. As ações da PF se fazem sem o conhecimento de outros setores do governo ou, pelo menos, dispensando as ordens ou autorizações da turma ?de cima?. Mas, já que os palacianos querem levar as honras das prisões das gangues de colarinho branco, que faça bom proveito. Mas que prenda também os ladrões que estão do lado dos que se gabam desse momento de purificação. E aí há um resultado perverso. Quanto mais ladrões de gravata são descobertos, mais sobra para que os preservados possam roubar.

O ministro Marco Aurélio Mello, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal e atual presidente do Tribunal Superior Eleitoral, foi quem disse, na semana passada, que o País ?vive momento de purificação?. Mas advertiu que o eleitor é o grande responsável pela efetiva punição daqueles que estão sendo pegos no crime organizado, como os sanguessugas e chupins semelhantes. Acontece que alguns desses, sendo parlamentares, encontram na renúncia aos seus atuais mandatos a fórmula mágica da impunidade. Deixam um final de mandato para não se arriscarem à condenação pelas comissões de ética da Câmara e do Senado, o que não deixa de ser uma confissão de culpa. E saem candidatos de novo, pois não perdem seus direitos políticos.

Mas será que o povo vai votar de novo nessa gente? É possível e até provável. Pesquisa feita pelo DataFolha, via internet, pergunta se os partidos deveriam expulsar imediatamente os parlamentares citados na lista dos supostos envolvidos com a compra superfaturada de ambulâncias. Ou se, por enquanto, os citados não deveriam sofrer punição ou restrição alguma. Tal só deveria ocorrer quando houvesse cabal comprovação dos atos ilícitos, em finais de processo. O resultado estava, quinta-feira passada, em 78% dos votos pela expulsão imediata; apenas 22% admitiam esperar para ver, o que daria oportunidade a novas candidaturas da corja que embolsou o dinheiro do povo.

Parece um resultado espetacular. O povo quer mesmo a purificação e o esmagamento, já, dos sanguessugas. Só que internet no Brasil ainda é coisa de gente da classe endinheirada. O povo, em grande maioria, não tem acesso a esses instrumentos de conhecimento e, ?pobre de marré de si? em dinheiro e informações, vota enganado. Usando uma expressão que merece perdão por traduzir uma verdade e não um insulto, pobre e malandro vota em malandro. Aquele por ser tapeado e este porque gosta de gente da mesma laia. A melhor solução, parece-nos, é a feita por Miro Teixeira. Os acusados, antes de haver prova cabal de seus crimes, têm o direito de candidatar-se. Mas, se eleitos, uma vez comprovada sua culpa, não podem tomar posse. Morrem na praia.

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