A renúncia de Fidel Castro, o mais antigo ditador dos muitos que ainda restam na face da terra, cria mais dúvidas que certezas. A decisão por ele tomada não é política. Prende-se, sim, ao seu estado de saúde, que, mesmo transcorrido largo tempo, não indica melhoras. Sustenta a decisão ainda o sistema montado que faz com que o governo de Cuba seja unipartidário, comunista, com algumas aberturas ao capitalismo, em especial no que se refere ao turismo, porém longe dos caminhos que vêm sendo percorridos pela China, sem dúvida um regime político marxista e uma economia cada vez mais à ocidental.
Cuba, ao contrário da China ou de alguns paises que teimosamente se apegam ao regime comunista, mesmo depois de sua implosão com o desaparecimento da União Soviética, mantém uma montagem de governo que afasta as possibilidades de vitória de algum grupo oposicionista. Os oposicionistas existem, mas ou estão nas prisões ou exilados.
E agora, o que vai ser de Cuba sem Fidel? A primeira resposta é que a ilha não ficará sem seu comandante em chefe e, mesmo que ele se torne incapaz de influir nos destinos do país, a estrutura política que montou e manteve por quase meio século não parece abalar-se.
Não obstante, há quem sonhe com mudanças rumo à democracia. É possível, embora não provável. Mesmo não sendo verdadeiras as conseqüências do boicote norte-americano à ilha, Cuba passa por uma situação de penúria, que já existia antes, mas se agravou com o fim da União Soviética e sua retirada dos subsídios ao açúcar, principal produto cubano.
No mais, o atual governo norte-americano, com Bush, plantou antipatias que não levam movimentos libertários à ilha, embora seja possível que a necessidade, mais que as ideologias, trabalhem por transformações.
Há quem julgue que Raúl Castro, irmão de Fidel e herdeiro do poder, seja mais aberto a passos democráticos. Talvez não por ideologia, mas por ver carências que sabe precisam ser atendidas.
Ignora-se o que vai acontecer sem Fidel, pois o grande ditador sai do poder sem desencarnar. As forças democráticas, que atuam mais de fora para dentro do que no seio do regime cubano, estimam que as mudanças que ora se realizam podem servir de pretexto, e não de causa, para uma abertura democrática. Há no âmbito externo um evento que pode levar à esperada abertura do regime cubano. Referimo-nos ao quadro sucessório nos Estados Unidos, onde é de se prever uma vitória dos democratas e o acontecimento de um fenômeno eleitoral de qualquer maneira relevante. Há palpáveis possibilidades de que o desastroso Bush seja substituído por uma administração democrata sob o comando de uma mulher, pela primeira vez na história norte-americana, ou por um negro, o que seria ainda uma reviravolta mais espetacular. Este processo de substituição do poder nos EUA pode servir de pretexto para uma aproximação com Cuba, esta cedendo às suas próprias necessidades e não ignorando que o inimigo de sempre, os Estados Unidos, sob um novo e inusitado comando, podem ser um aliado ou pelo menos não serão um inimigo figadal, como é com George Bush.