Em resposta ao deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), a mulher do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, Renilda Santiago, disse há pouco, na CPI dos Correios, que seu marido não participou da reunião entre diretores do Banco Rural e o ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu, realizada em Belo Horizonte, para acertar a realização de empréstimo do banco ao PT.
Ela acha que esse encontro ocorreu no fim do ano passado mas disse que houve outro, com o BMG, com a participação de José Dirceu, em Brasília. Na resposta, ela deu a entender que Valério tampouco participou desta segunda reunião.
Ela disse que perguntou a seu marido qual a relação dos empréstimos com o presidente Lula, mas que ele disse que não conhecia Lula. Sobre eventual favorecimento de Lula, Valério também teria dito que não existia.
Durante a resposta, o relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), interveio para indagar se, há dez dias, Valério se encontrou com Delúbio Soares. Renilda, que trata Delúbio de "Doutor", disse que o ex-tesoureiro do PT telefonou para Marcos Valério, mas ela não soube dizer se eles se encontraram nessa ocasião. "Sei que ele ligou. Mas não sei se chegaram a conversar pessoalmente", afirmou.
Em relação a um eventual pedido de delação premiada junto à Procuradoria Geral da República por parte de Valério, ela disse que seu marido foi de livre e espontânea vontade à Procuradoria para esclarecer fatos. Questionada se Valério dá a entender, em su as conversas, que ele sabe de coisas, ela respondeu: ‘"Ele não comenta comigo se ele tem ou não documentos. Eu já perguntei para ele sobre essa versão de que ele tem em mãos caixas de documentos, e ele disse que isso não existe".
Ela contou ainda, respondendo a ACM Neto, que seu marido "está chateado, triste. Ele está preocupado, mas não fez uma coisa ilícita. Ele tirou um financiamento legal. O que o Dr. Delúbio fez, eu não sei", disse ela, referindo-se à destinação dos recursos do empréstimo. Segundo Renilda, Marcos Valério está tendo uma vida encarcerada. Não pode sair às ruas e, evidentemente, "tem que estar muito abalado psicologicamente".
ACM Neto ainda quis saber se Marcos Valério está sendo abandonado. "Só espero que, se existem pessoas que participaram desses atos, se sensibilizem, até pela nossa família; tomem partido e assumam alguma coisa que ajude a revelar os fatos", afirmou ela. "Minha família foi execrada, condenada em três dias. O que é injusto é que pessoas que participaram disso… elas têm que assumir".
Segundo Renilda, a responsabilidade está recaindo somente sobre seu marido, mas nenhum cheque é assinado só por ele.
Todos são assinados também por outros sócios dele.
Ela relatou que trabalhou durante cerca de três anos no Banco do Estado de Minas Gerais, mas atuou na área de treinamento à distância, procurando desvincular qualquer conhecimento de técnica bancária. Disse que, quando deixou o banco, tornou-se dona de casa.
Renilda esclareceu, ainda, que entrou como sócia de seu marido quando Clésio Andrade, o atual vice-governador de Minas Gerais (PL), deixou o cargo. Foi quando Marcos Valério achou conveniente que ela entrasse de sócia. Já estava casada há 18 anos quando isso aconteceu, e ela disse que nunca teve motivos para desconfiar do marido.
ACM Neto perguntou, ainda, se o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares deu a Marcos Valério a garantia de que o então ministro José Dirceu e o então secretário-geral do PT Sílvio Pereira tinham conhecimento das transações. Ela disse que de Sílvio ela não sabia, mas de Dirceu poderia falar, porque ele participou de reunião para acertar o empréstimo.