O presidente do Senado, Renan Calheiros, um dos nomes de maior prestígio no partido majoritário do governo, que é o PMDB e não o PT, como alguns podem pensar, está na berlinda. Foi objeto de denúncias que saíram na imprensa, mas não foram formalizadas nos órgãos competentes, o que não evitou o escândalo. Esse escândalo põe a nu episódio secreto da vida privada do senador. Revelou-se que ele teve uma filha com uma jornalista fora de seu casamento. E que paga, ou por ele um preposto de uma grande empreiteira, pensão, aluguel e ainda teria sido montado um fundo para a educação da criança.
O senador foi corajoso. Tão logo os fatos foram revelados, assumiu sua cadeira de presidente do Senado para dar explicações. Dessa cadeira da qual comanda a Câmara Alta, falando aos seus pares, deixou desde logo claro que pretendia falar de cima e não de uma simples tribuna. Se esta fosse sua intenção, teria se afastado da presidência da sessão e assumido a tribuna que é usada por todos os demais senadores. Mas o parlamentar alagoano não pretende ceder um milímetro em sua posição de inocente, sem reconhecer sequer indícios e possibilidades de provas em contrário. Mesmo àqueles que estão pregando seu afastamento do cargo de presidente do Senado, enquanto são investigadas as acusações que lhe fizeram, responde que não sai: ?Não saio. Não existe nada contra mim? – é a sua resposta.
A defesa feita por Renan Calheiros foi quase convincente. Quase, pois mesmo os documentos que mostrou da mesa do Senado não foram examinados nem pela Corregedoria da Casa nem por sua Comissão de Ética. Ele afirma que todo o dinheiro saiu de seus próprios ganhos, mas não há compatibilidade entre os subsídios de senador e a pensão paga. Esta seria maior que aqueles. Calheiros explica que é também fazendeiro e que com recursos próprios cobriu as diferenças. Explicou, mas não convenceu de todo, pois faltam as provas. No mais, declarou que formou um fundo de R$ 100 mil para a educação da filha natural, o que é negado pelo advogado da jornalista mãe da criança. O fato é que há argumentos e, inclusive, provas mostrados à distância. Não existem provas indiscutíveis apreciadas por quem de direito, ou sejam, a Corregedoria do Senado e a Comissão de Ética.
?Todo parlamentar investigado é natural e salutar que saia da posição de comando?, disse Heloisa Helena, presidente do PSOL e ex-candidata à Presidência da República, conterrânea de Renan Calheiros. O PSOL decidiu entrar com uma representação no Conselho de Ética do Senado contra o presidente Renan Calheiros, por quebra de decoro parlamentar. O pedido foi encaminhado ao presidente temporário do Conselho de Ética, o corregedor-geral do Senado, Romeu Tuma (DEM-SP). Em paralelo, o PSOL defende a instauração de uma CPI das obras. Esta investigaria não apenas as denúncias contra Renan Calheiros, mas também as que envolvem os demais parlamentares que teriam sido beneficiados por construtoras, conforme o apurado na Operação Navalha.
Tem razão a ex-senadora ao pedir o afastamento provisório de Renan da posição de presidente do Senado. Permanecer no cargo certamente inibe as investigações. Quanto à criação de mais uma CPI, se nada resultar da proposta, pelo menos cria um interessante termo novo. Disse ela que ?só a CPI pode identificar a triangulação do ?propinódromo?. É a Comissão Parlamentar de Inquérito que está autorizada a quebrar sigilos, por exemplo?, complementa a dirigente política oposicionista alagoana.
?Propinódromo? seria a larga avenida por onde passam as propinas. E muitas vão ficando pelo caminho.