Renan dividiu a oposição

?Um dia fúnebre para o Senado?, foi o veredito proferido pelo senador Jefferson Peres (PDT-AM), relator do pedido de cassação do colega Renan Calheiros (PMDB-AL), que antes do início da votação do parecer apresentara o pedido de renúncia do cargo de presidente do Senado, do qual estava novamente licenciado.

Até aí, Renan cumpria fielmente o roteiro preestabelecido de comum acordo com o Planalto, expondo a senha combinada com antecedência e dando a entender aos colegas que agora eles deveriam retribuir o gesto conciliador votando, pela segunda vez, pela absolvição. Foi o que se consumou por 48 votos contra e 29 pela cassação. A grande diferença a favor de Renan surpreendeu até mesmo os aliados mais entranhados, como o mineiro Wellington Salgado (PMDB).

Para especialistas em comportamento congressual, com a absolvição de Renan, o governo mostra que está na ponta dos cascos para encarar no plenário do Senado a batalha pela prorrogação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), por mais quatro anos. Nesse momento, é a oposição (leia-se PSDB) que volta a trabalhar pelo retardamento da votação, antes julgada de caráter urgentíssimo.

Aliás, a blindagem colocada sobre o mandato de Renan, para o senador José Agripino Maia (DEM-RN), líder do partido na Casa, derivou do acerto prévio entre PT e PMDB, inclusive, visando à aprovação do imposto do cheque. Se os maiores partidos do bloco oposicionista já não conseguiam esconder do público as fissuras que dificultavam o entendimento em temas comuns, o teor resoluto das declarações de Agripino soa como uma ameaça de rompimento.

O resultado final para a instituição, de acordo com o frustrado relator, foi o pior possível em termos de desmoralização. Pode-se imaginar que os processos ainda pendentes contra Renan, com o precedente da primeira absolvição ratificado por maioria ainda mais folgada, sem delongas, tenham como destino o arquivamento puro e simples.

Nada pegou contra o senador-teflon, muito embora a consciência generalizada de que suas insinuações de liberar a tropa de choque para votar contra a CPMF, caso fosse cassado, não deixaram alternativa ao governo senão desempenhar o humilhante papel de patrocinador da defesa de Renan, tornando ainda mais fundo o fosso do descrédito popular nas instituições.

O último coronel da política brasileira, José Sarney, primeiro a cumprimentar Renan após a ?vitória?, classificou o resultado como ?previsível?. Cai o pano.

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