O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), está indignado com o que considera "vazamentos políticos" das investigações da Polícia Federal (PF) na Operação Navalha, que acabaram vinculando seu nome às denúncias do esquema de fraudes em licitações de obras públicas. Embora o inquérito corra em segredo de Justiça, a PF divulgou a gravação de escutas telefônicas em que seu nome é apenas citado por terceiros que ele afirma nem conhecer, embora assuma uma amizade de 30 anos com Zuleido Veras, o dono da construtora Gautama que a polícia aponta como operadora do esquema de fraudes.
Assim que chegou ao Congresso, Renan insistiu na tese de que o governo precisa apressar as investigações, "para que as especulações não se sobreponham aos fatos". Argumentou que a demora "é muito ruim para o Estado de Direito e para a democracia, porque cria um espaço para que os fatos sejam usados politicamente", e acrescentou: "Quero que as investigações andem rapidamente para que se conheça a responsabilidade de cada um e para repelir qualquer insinuação".
Segundo o senador, o melhor é que todos os fatos apurados na operação da PF sejam esclarecidos rapidamente "para que a verdade apareça". Nos bastidores do partido, amigos de Renan responsabilizam o ministro da Justiça, Tarso Genro (PT), pela divulgação do nome do senador em meio às notícias da Operação Navalha, sem que haja qualquer acusação formal contra ele.
Menos de dois meses depois de ter se reconciliado com o Palácio do Planalto, virando a página dos desentendimentos em torno da sucessão no Congresso e no comando do PMDB, o senador está inconformado com o tratamento que recebeu do governo neste episódio. "Meu nome não está citado em nenhuma parte do processo (em andamento no Superior Tribunal de Justiça). Só aparece mencionado por terceiros, o que não tem sentido, porque eu não conheço essas pessoas", argumentou. "Isto não tem nenhum sentido", queixou-se.
Seus adversários, no entanto, lembram que por iniciativa dele, Renan, o presidente Lula incluiu na Medida Provisória 270 que abria créditos extraordinários de R$ 825 milhões, editada no final do ano passado, recursos para uma obra da Gautama em Alagoas. Na carona na MP, foram destinados R$ 70 milhões para obras do sistema de abastecimento de água do rio Pratagy, em Maceió. Isto, depois de o Tribunal de Contas da União ter apontado irregularidades em nove obras da construtora espalhadas por vários Estados.
A acusação irrita o presidente do Senado, que se recusa a assumir o papel de padrinho da empreiteira. Renan diz que o pedido levado ao Planalto foi feito, na verdade, pelo então governador de Alagoas, Armando Abílio (PMDB). Argumenta que os senadores defendem junto ao governo a inclusão das obras que os governadores apontam como prioritárias para os Estados e que, no seu caso, atendeu ao pedido feito em carta pelo governador alagoano.