As palavras de arrependimento pronunciadas pelo senador e ex-presidente Fernando Collor, em entrevista publicada ontem pelo jornal O Estado de S. Paulo, não soaram nada bem aos ouvidos de alguns prejudicados por sua estratégia para tentar livrar o Brasil da inflação no início dos anos 90.

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São correntistas que tiveram suas economias bloqueadas pelo Plano Collor e até agora tentam recuperar na Justiça a correção monetária perdida com a mudança nos indexadores da caderneta de poupança. Eles insistem em que Collor foi autor de um "roubo" e de uma "violência grotesca" e, 17 anos depois, tenta se "passar por bonzinho"

O engenheiro industrial William dos Santos, de 61 anos, tinha aproximadamente US$ 130 mil aplicados na poupança quando Collor colocou em prática seu plano econômico. Na época desempregado, ele pretendia investir a economia feita durante toda a vida em uma confecção que tinha acabado de montar. O negócio acabou sem recursos em caixa e prejudicado pela concorrência de produtos estrangeiros gerada pela abertura do mercado no Brasil.

"O arrependimento dele eu meço por um único fator: ele que coloque de volta na minha conta bancária o que foi roubado de mim e da minha família e depois venha pedir desculpas", disse Santos. "O que ele fez foi uma violência grotesca.

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O economista aposentado Fabio Maiera, de 68 anos, tinha vendido um apartamento e aplicado o dinheiro para, depois de alguns meses, construir uma casa. Segundo ele, o dinheiro devolvido após o confisco equivalia a 40% do necessário para adquirir um apartamento de igual valor.

Isso porque, enquanto a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPC) batia algo em torno de 85%, as aplicações em caderneta de poupança que aniversariavam na segunda quinzena de março de 1990 passaram a ser indexadas pelo Bônus do Tesouro Nacional Fiscal (BNTF). Aplicações que se encaixavam na nova regra tiveram reajuste inferior a 5%. "Esse sujeito já mostrou que não tem dó de ninguém. Dizer que está arrependido é só propaganda", disse Maiera.

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O administrador de empresas aposentado José Antônio, de 62 anos, chegou a ver o dinheiro aplicado na poupança avançar menos de 3% enquanto o reajuste do financiamento imobiliário contraído algum tempo antes passava de 70%. "Ele dizer agora que se arrepende é muito pouco", afirma. "O que é que ele está fazendo para tentar reverter todo o mal que ele cometeu? Isso sim seria se arrepender.