Remessas de empresas provocam déficit nas contas externas

Brasília – Um expressivo aumento das remessas de dólares das empresas para o exterior levou a conta de transações correntes do País, na qual são contabilizadas as operações comerciais e de serviços com outros países, a registrar um déficit de US$ 452 milhões em janeiro. O saldo negativo interrompeu a seqüência de resultados positivos nas contas externas que vinha sendo registrada desde dezembro de 2004.

De acordo com o chefe do Departamento Econômico do Banco Central (BC), Altamir Lopes, a apreciação do real frente ao dólar incentivou as multinacionais a intensificar o envio dos lucros obtidos no País às suas matrizes. "Isso também reflete um aumento de rentabilidade das empresas", disse Lopes. O déficit de janeiro foi o maior desde abril de 2004, quando a conta ficou negativa em US$ 754 milhões.

Os dados divulgados hoje (21) pelo BC mostram que as remessas de lucros e dividendos pelas empresas somaram US$ 1,540 bilhão, o volume mais alto da série histórica, iniciada em 1947, para meses de janeiro. Em janeiro de 2005, foram enviados apenas US$ 372 milhões. Para Altamir, o saldo negativo de janeiro não significa uma reversão na evolução positiva das contas externas. "As exportações continuam muito bem, o que dá a garantia de que o comportamento está dentro do esperado", afirmou.

Ele admitiu, no entanto, que as remessas no mês passado ficaram um pouco acima do projetado pelo BC, o que impediu que a conta de transações correntes fechasse com superávit. O resultado também ficou acima das expectativas dos analistas do mercado financeiro. Para as empresas multinacionais, é vantajoso aproveitar o dólar barato para enviar às suas sedes os lucros obtidos no País porque com menos reais elas adquirem mais dólares e melhoram os balanços das holdings.

Mesmo com o déficit em janeiro, o País continuou recebendo uma enxurrada de dólares por causa do bom resultado da balança comercial – que teve superávit de US$ 2,844 bilhões – e das operações de captação de recursos no exterior. Várias empresas estão aproveitando as condições favoráveis do mercado internacional para renovar empréstimos externos. Em janeiro, esses fatores ajudaram o fluxo cambial (entrada e saída de divisas do País) a apresentar resultado positivo de US$ 1,9 bilhão. Em fevereiro, até sexta-feira, a entrada já acumula US$ 5,3 bilhões.

Os investimentos estrangeiros diretos no País em janeiro também surpreenderam. Eles chegaram a US$ 1,5 bilhão em janeiro e devem atingir a marca de US$ 1 bilhão neste mês, segundo previsão de Lopes. Ele ressaltou que esse dado demonstra a confiança dos investidores estrangeiros no País. Até sexta-feira entraram US$ 770 milhões em investimentos externos. No período de 12 meses encerrado em janeiro, os investimentos estrangeiros no Brasil somaram US$ 15,47 bilhões. Em 2006, eles devem totalizar US$ 16 bilhões, segundo as projeções do BC.

Nos 12 meses encerrados no mês passado o saldo das transações correntes continuou positivo, acumulando um total de US$ 12,94 bilhões. No entanto, houve redução em relação ao resultado verificado de janeiro a dezembro de 2005, que ficou em US$ 14,199 bilhões. Em termos de proporção do Produto Interno Bruto (PIB), o superávit anual caiu de 1,79%, em dezembro, para 1,62% em janeiro.

Lopes disse que a expectativa do BC é de que em fevereiro as contas externas fiquem mais "próximas do equilíbrio" entre a entrada e a saída de recursos e que melhorem ao longo do ano. A projeção para 2006 é de superávit de US$ 6 bilhões na conta de transações correntes.

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