O fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, preso no último domingo (27), pode não ser o único mandante do assassinato da missionária Dorothy Stang, morta com seis tiros no dia 12 de fevereiro, em Anapu (PA). Essa é uma das principais conclusões da comissão externa do Senado criada para acompanhar as investigações sobre o caso, cujo relatório aponta a existência de possível consórcio no Pará para financiar a morte de pessoas contrárias à exploração ilegal de madeira e grilagem de terras na terras na região.
Mesmo elogiando "o rápido esclarecimento do homicídio" e a atuação conjunta das polícias Federal, Civil e Militar do estado do Pará – que "influenciou, decisivamente, no êxito das investigações" – o relatório final da comissão destaca que esse trabalho deve ir além da prisão dos quatro acusados. "O esclarecimento do crime, com a prisão dos executores e de um mandante, não implica a descoberta de toda a cadeia de mandantes do crime e de uma rede de suporte às atividades criminosas contra a preservação da floresta e contra os assentamentos sustentáveis", diz. O relator, senador Demóstenes Torres (PFL-GO), disse que se trata de um "consórcio para que esses crimes continuem a existir no Pará".
O relatório foi aprovado nesta quarta-feira (30), por unanimidade, após 42 dias desde o início dos trabalhos. Para a presidente da comissão, senadora Ana Júlia Carepa (PT-PA), pelo menos mais seis pessoas estariam envolvidas no crime. "São ditos fazendeiros e madeireiros, porque quem está numa terra ilegalmente não é produtor rural, quem usa da violência é bandido travestido de produtor rural", disse Ana Júlia, sem citar nomes. "Essas pessoas têm sua história vinculada à violência contra os trabalhadores e precisam ser investigadas", afirmou a senadora.
Os quatro acusados de participação no assassinato já estão presos: os dois pistoleiros, Rayfran das Neves Sales e Clodoaldo Carlos Batista, o acusado de ser o intermediário, Amair Feijoli da Cunha, além de Vitalmiro Bastos de Moura, que se entregou à Polícia Federal depois de passar 40 dias foragido.
Na avaliação de Ana Júlia Carepa, o esclarecimento de todos esses pontos é fundamental para que não haja impunidade e para que seja possível evitar outros crimes semelhantes. "O relatório traz coisas importantes, como a necessidade de que se continue a investigação para que possamos desbaratar, de uma vez por todas, esse consórcio. No nosso entendimento, ele serviu para matar a irmã Dorothy, mas se for não desbaratado, vai servir para matar todos aqueles que forem contrários à exploração ilegal da Amazônia, dos nossos recursos naturais de forma predatória".
A comissão externa do Senado realizou mais de 10 reuniões, das quais cinco audiências em que foram ouvidos ministros e outros representantes do governo federal, autoridades do estado, representantes do Ministério Público Federal, integrantes da Comissão Pastoral da Terra (CPT), assim como pessoas ligadas a associações de produtores rurais, de madeireiros e de trabalhadores rurais da região.