Às vésperas da apresentação das conclusões de dez meses de investigações da CPI dos Correios, as pressões do Palácio do Planalto para atenuar o teor do relatório final se intensificaram. O presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), tenta convencer o relator Osmar Serraglio (PMDB-PR) a elaborar um texto enxuto e sem adjetivos fortes. A ordem do Planalto é "desidratar" ao máximo o relatório retirando a contextualização do mensalão e poupando do pedido de indiciamento estrelas do PT como Luiz Gushiken e José Dirceu.
"Precisamos apresentar um relatório isento, justo, equilibrado, fático, técnico, sem adjetivação e encaminhá-lo a quem de direito, ao Ministério Público, à Polícia Federal e, eventualmente, às mesas da Câmara e do Senado", argumenta Delcídio Amaral.
A reação é imediata. "O PFL não vai aceitar que qualquer tipo de pressão prejudique a contundência que deve ser a marca do relatório final", avisa o sub-relator de fundos de pensão da CPI deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA).
A estratégia dos governistas é salvar do pedido de indiciamento pessoas sobre as quais não haja provas contundentes de participação direta no escândalo envolvendo o empresário Marcos Valério e a compra de apoio no Congresso. "Vamos sugerir o indiciamento apenas das pessoas que têm culpabilidade comprovada", diz o vice-presidente da CPI, deputado Asdrúbal Bentes (PMDB-PA).
A CPI pretende jogar para o Ministério Público a responsabilidade de tipificar o crime dos envolvidos no esquema que ainda precisem ser investigados. "Quando houver dúvidas e as investigações não chegarem a uma conclusão, vamos encaminhar o nome do envolvido para o Ministério Público continuar com as apurações", explica Bentes. Ou seja, envolvidos no mensalão serão poupados do pedido de indiciamento com a divisão das punições em três categorias: os indiciados, as pessoas próximas do indiciamento e outro grupo que merece investigação maior para ser indiciado.
Por essa nova metodologia, o ex-presidente do PT José Genoino e o ex-secretário geral do partido Sílvio Pereira, que confessou ter ganho um carro da construtora GDK, estariam livres do pedido de indiciamento. Os dois alegam que nada sabiam sobre o mensalão. Já o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, que assumiu a culpa pelo esquema de caixa dois, terá seu indiciamento pedido provavelmente por tráfico de influência e corrupção ativa.
Na avaliação de integrantes da CPI dos Correios, a suavização do relatório final é essencial para que a proposta seja aprovada. O temor é de que a Comissão acabe sem aprovar um texto final, com a conotação de que a CPI terminou em pizza. "Os culpados estão apostando na não-aprovação do relatório porque isso criaria as condições necessárias para que, depois, eles se livrassem das suas penas no Judiciário", diz Delcídio.
