A presidente do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Ellen Gracie anunciou nesta terça-feira (28) que 2.978 pessoas recebem salários acima do permitido no Poder Judiciário. Entre elas, estão magistrados, servidores do Justiça da ativa e aposentados e pensionistas. Ellen Gracie disse que amanhã comunicará aos presidentes dos tribunais aos quais essas pessoas pertencem que os supersalários têm de ser cortados a partir deste mês.
"Os tribunais têm que fazer as suas adequações para que os salários de seus servidores e magistrados estejam dentro do teto estabelecido pelo CNJ", disse Ellen Gracie. No entanto, é esperada uma grande reação no Judiciário, principalmente nos tribunais de Justiça (TJs), onde estão concentrados os casos irregulares e onde o salário máximo deveria ser de R$ 22.111,25.
De acordo com as informações do CNJ, das 2.978 pessoas em situação irregular, 2.857 são ligadas a TJs. Os outros 121 casos foram encontrados no Tribunal Regional Federal (TRF) da 5ª. Região. Os atingidos pela medida poderão tentar conseguir liminares na Justiça para manter o valor de seus contracheques. Há chances de êxito. Cerca de 200 desses supersalários pertencem a desembargadores.
Discrepâncias
Em São Paulo, foi encontrado mais de um terço das situações irregulares. Conforme o CNJ, existem 1.208 pessoas recebendo acima de R$ 22.111,25 no TJ paulista. Lá também é pago o maior supersalário divulgado pelo CNJ: R$ 34.814,61. Durante a sessão em que Ellen Gracie apresentou os dados, os conselheiros do CNJ fizeram uma série de observações. Entre elas, que a "lenda urbana" imaginava que os salários eram superiores aos encontrados pelo conselho.
"A lenda urbana rezava que o excesso era duas ou três vezes acima do teto. Foi bom fazermos essa análise para verificar que não era bem assim", afirmou Ellen Gracie. "A caixa preta não está mais no Judiciário", completou o conselheiro Oscar Argollo. "Pela primeira vez na história republicana um Poder realizou um trabalho de absoluta transparência, mostrando quanto ganham os juízes e servidores. Que isso sirva de exemplo para os outros Poderes", disse o conselheiro Alexandre de Moraes.
Os conselheiros concluíram que os 2.978 casos irregulares encontrados pelo estudo representam pouco em relação ao universo de fichas analisadas: 188.674. Ou seja, em cerca de 1,5% dos casos foi achado salário superior ao permitido. Esses casos estão concentrados em 19 tribunais de Justiça (TJs) e no Tribunal Regional Federal (TRF) da 5ª. Região. Segundo o CNJ, no estudo não foram incluídos os dados da Justiça Militar, que estão indisponíveis.
Ao mesmo tempo em que mandou cortar os supersalários nos tribunais, o CNJ apóia a aprovação de um projeto enviado ao Congresso Nacional para criar um jetom de mais de R$ 5 mil para os conselheiros que acumulam funções no órgão e no Judiciário. Outro projeto foi enviado recentemente para o Congresso pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para aumentar o valor do teto salarial do funcionalismo público, que é a remuneração do STF. Atualmente, esse teto é de R$ 24,5 mil. O projeto propõe um reajuste para R$ 25,7 mil. Se o projeto for aprovado, serão concedidos reajustes em cascata para todo o Judiciário.