O relatório de inflação do terceiro trimestre, que será divulgado até sexta-feira pelo Banco Central terá um significado especial para os diretores da instituição.
Depois das críticas generalizadas à atuação do BC por causa do longo período de juros altos iniciados em setembro de 2004, o documento vai enfatizar que as projeções de inflação para o ano estão inferiores ao objetivo perseguido pelo Comitê de Política Monetária (Copom), de 5,1% em 2005. No último relatório, em junho, as estimativas do BC para o IPCA de 2005 tinham subido de 5,5% para 5,8%.
A informação de que a estimativa de inflação já está abaixo da meta foi antecipada na ata da última reunião do Copom, que, no entanto, não adiantou números. Além das novas projeções, o relatório vai trazer uma ampla avaliação do comportamento da economia depois do ciclo de alta dos juros. "Esse relatório tem importância crucial porque vai trazer um quadro favorável para a inflação e a economia", disse uma fonte da equipe econômica.
Os analistas do mercado financeiro esperam encontrar no relatório sinais adicionais para balizar as suas estimativas sobre o tamanho do próximo corte da taxa Selic. Como a maioria deles espera um corte de 0,50 ponto porcentual, a expectativa é de que as projeções do BC possam ajudar a confirmar essa aposta.
Para o gerente de Política Monetária do Itaú, Joel Bogdanski, o relatório deve apontar uma projeção do IPCA deste ano próxima de 5% e, para 2006, em torno de 3,5%, bem abaixo da meta de 4,.5% do próximo ano. Segundo ele, a queda da inflação foi favorecida muito mais pelo choque da oferta de alimentos nos preços do que pela política monetária do BC.
"Tivemos quatro meses seguidos, entre junho e setembro, de queda no preços de alimentos, um grupo com peso de 17% no IPCA", disse Bogdanski. O mercado espera encontrar no relatório uma análise detalhada do BC sobre o choque positivo da oferta agrícola. "O BC apertou mais do que poderia", disse o economista do Itaú, referindo-se à política de juros altos.
Para o consultor Amir Kahir, as comemorações do sucesso da política monetária no controle da inflação devem ser vistas com cautela. Na sua avaliação, ao contrário do que diz o BC, a Selic elevada tem causado inflação. "Devido ao seu elevado nível a Selic reprime mais a oferta do que a demanda ao desestimular o investimento produtivo", argumentou.
Além disso, a Selic não consegue reprimir a demanda pelo fato de o mercado estar oferecendo crédito mais barato, como os feitos em consignação com desconto em folha.
Segundo Kahir, o que está segurando inflação no Brasil é a globalização e o fato de haver no mercado internacional produtos com preços estáveis. "A economia globalizada exerce controle sobre o processo inflacionário em todos os países", disse. Por isso, ele defende a redução de alíquotas de importação para setores formadores de preços nas cadeias produtivas.