Brasília ? Das 61 páginas do relatório parcial apresentado hoje (1º) pelas comissões parlamentares mistas de inquérito (CPMI) dos Correios e da Compra de Votos, sete páginas foram destinadas à análise de um suposto envolvimento do ex-ministro da Casa Civil e deputado federal, José Dirceu (PT-SP), com o esquema do "mensalão". O "mensalão" seria o suposto pagamento de mesadas a parlamentares de partidos da base aliada do governo. Os relatores das comissões Osmar Serraglio (Correios) e Ibrahim Abi-Ackel (Compra de Votos) destacaram as denúncias feitas pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) contra Dirceu.
"O deputado José Dirceu, ex-ministro-chefe do Gabinete Civil da Presidência da República, foi apontado pelo deputado Roberto Jefferson, perante esta comissão, assim como perante o Conselho de Ética da Câmara dos Deputados e em entrevistas a órgãos de imprensa, como criador do esquema a que se convencionou chamar de ‘mensalão’", aponta o relatório.
Os relatores reproduziram as afirmações de Jefferson de que, na qualidade de coordenador político e principal ministro do governo Lula, "o deputado José Dirceu articulou o esquema de distribuição de pagamentos a deputados em troca de apoio ao governo em votações de seu interesse".
No depoimento na CPMI dos Correios, a esposa do empresário Marcos Valério de Souza, Renilda Souza, afirmou que seu marido participou de reuniões com o então ministro José Dirceu acompanhado de diretores do Banco de Minas Gerais (BMG). Os relatores destacaram o fato de Renilda ter dito, na CPMI, que Dirceu tinha conhecimento dos empréstimos realizados por Marcos Valério para repasse de dinheiro ao Partido dos Trabalhadores.
Na CPMI da Compra de Votos, o ex-tesoureiro do PTB, Emerson Palmieri, afirmou que o ex-ministro sempre era consultado após as reuniões com os dirigentes do PT. "Depois de todas essas conversas, sempre havia uma ligação do Delúbio (Soares) ou do (José) Genoino para o deputado José Dirceu e, após esse contato, os dirigentes do PT asseguravam que tudo estava certo em relação ao repasse dos recursos", diz o relatório.
Os relatores consideraram como uma "denúncia grave" a declaração do ex-presidente do PTB sobre a troca de partidos políticos por parlamentares: "Há cooptação de deputados. Há vários deputados que chegaram, inclusive ao meu partido, com nomeações feitas pelo José Dirceu para poder compor a base de meu partido", disse Jefferson.
Na sua defesa, José Dirceu afirma que as denúncias feitas por Roberto Jefferson "são desprovidas de prova e seriedade, caracterizando mera tentativa de desviar o rumo das investigações que devem ser realizadas por esta CPMI". Ele argumenta também que existem apenas "suposições" no que diz respeito ao seu conhecimento sobre os empréstimos que teriam sido feitos pelo PT e avalizados por Marcos Valério.