Brasília – O relator da Comissão Parlamentar de Inquérito do Tráfico de Armas, deputado Paulo Pimenta (PT-RS), informou que vai pedir, no relatório final da CPI, o indiciamento da advogada Ariane dos Anjos, acusada de trabalhar para integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) e de participar da morte do juiz-corregedor da Vara de Execuções Penais de Presidente Prudente, Antônio Machado José Dias, em março de 2003.
"Acredito que existam indícios suficientes para pedir o indiciamento dela, não só por envolvimento na organização, como também como integrante do esquema que levou ao assassinato do juiz-corregedor", disse Paulo Pimenta.
Ariane prestou depoimento nesta quarta-feira (6) na CPI e, apesar de confirmar que defende ou já defendeu os principais líderes do PCC, negou ser integrante da facção criminosa. "Não trabalho para o PCC. Trabalho para pessoas que se encontram presas", afirmou Ariane. Ela confirmou que foi advogada do líder do PCC, Marcos Camacho (Marcola), de Valdeci Alves dos Santos (Colorido), Robson Lima Ferreira (Marcolinha) e Abel Pacheco de Andrade (Vida Louca), entre outros. Ariane admitiu também que é advogada de Luiz Henrique Fernandes, chamado pelo relator da CPI de "porta-voz do Marcola".
No caso do juiz, Pimenta disse que foi a advogada quem transmitiu a ordem de Marcola para que o assassinato fosse cometido. Segundo o deputado, a informação foi confirmada por outros depoentes, que disseram que Ariane esteve com Marcola na época da morte do juiz.
O rastreamento das visitas à penitenciária de Avaré, no interior de São Paulo, mostra que ela se encontrou durante duas horas com Marcola no dia 13 de março de 2003, dia em que o juiz foi morto. Análise das chamadas telefônicas da advogada mostram que ela recebeu ligação telefônica com duração de oito segundos um minuto após o assassinato. Para a CPI, são indícios suficientes para atestar a participação dela no crime. "No caso da morte do juiz corregedor, todos os indícios levam a uma participação direta dela", disse Pimenta.
O rastreamento das ligações de Ariane mostra que, entre janeiro e março de 2003, época da morte do juiz, Ariane trocou 111 telefonemas com Priscila Maria dos Santos, que responde a processo por tentativa de homicídio, junto com Luiz Henrique, uso de documento falso e tráfico de drogas. Priscila também é acusada de operar uma central telefônica dentro do presídio de Avaré. O rastreamento mostra ainda que, um dia antes do assassinato do juiz, às 23h30, ela conversou mais de cinco minutos, por telefone, com Priscila. "Não levava recado de ninguém. Nunca nenhum preso, nenhum cliente, nenhuma pessoa me mandou fazer nada", negou Ariane.
De acordo com a CPI, a advogada teria também recebido pagamentos da facção criminosa. Na agenda do tesoureiro do PCC, conhecido como DVD, consta uma anotação de setembro de 2004 com o pagamento de R$ 10 mil para a "dra. Ariane". Segundo a CPI, na conta bancária da advogada está registrado o recebimento desse valor na mesma época. Ariane ainda responde a inquérito por forjar declaração para visita íntima de preso. Ela forjou relacionamento de dois anos com Donizete Antônio de Oliveira para ter direito a visitá-lo. Na verdade, disse a advogada, o relacionamento entre os dois durou apenas dois meses. Ele estava, na época, no mesmo pavilhão penitenciário de Marcola, o que reforçou a suspeita da CPI de que Ariane seria uma espécie de "pombo-correio" do PCC.
Eça confirmou também que foi casada com Evandro Castellucci Arantes na época em que era advogada de Marcola. Evandro era agente de segurança no Instituto Penal Agrícola de Bauru (SP) e respondeu a sindicância, sendo afastado do cargo sob acusação de operar uma central telefônica clandestina no instituto.
Segundo a CPI, todas as investigações realizadas sobre o PCC revelam que a advogada tem participação de destaque na organização. Além de ser responsável pelos processos que envolvem os principais líderes da organização, diz a CPI, há "um conjunto de indícios que revelam que ela tem autoridade, no sentido, inclusive, de transmitir ordens, pelas ligações que faz de maneira permanente para as centrais telefônicas, pelo fato de constar da contabilidade comprovadamente, pela movimentação financeira dela. Estamos convencidos do envolvimento (dela) em fatos extremamente graves".