Relator de CPI diz que novela global estimula emigração ilegal

São Paulo (AE) – Tem gente querendo ver Jota, o bem-sucedido chofer de Miami, a pé. O personagem da novela América, da Rede Globo, interpretado pelo ator Roberto Bomfim, é o exemplo de brasileiro que foi trabalhar nos Estados Unidos e se deu bem. Quem torce por um final triste no melodrama é o deputado federal Paulo Magno (PT-MG), relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Congresso sobre a Emigração Ilegal. "Já há dados concretos de que a novela tem estimulado e muito a emigração ilegal. A depender do final da novela, tememos que o incentivo ao tráfico internacional de emigrantes seja ainda maior."

O deputado participou ontem (21) de um chat no site da Agência Câmara no qual discutiu com internautas a emigração ilegal, principalmente, para os Estados Unidos. Criticou a novela, defendeu o aumento de 6 mil para 25 mil dos vistos de trabalho concedidos todo ano pelo governo americano aos brasileiros e mais rigor na punição de agenciadores que lucram com os emigrantes.

O deputado afirmou que a novela "atemoriza a travessia pelo México", mas incentiva "em função do consumismo apresentado". Magno contou que foram apresentados na CPI requerimentos para uma audiência pública no Congresso com a participação de Glória Perez, autora da novela, e da atriz Deborah Secco, que faz a personagem Sol. Os deputados querem discutir e avaliar com elas o impacto da novela na emigração. Ele só não explicou por que a atriz foi escolhida entre tantos atores do elenco de América.

"A partir da discussão no Congresso, esperamos sensibilizar os responsáveis pela novela para os efeitos sociais da trama", disse Magno, um dos sete deputados petistas denunciados pelas CPIs dos Correios e do Mensalão. Ele é acusado de receber R$ 326 mil do esquema do publicitário Marcos Valério. Disse que não sabia a origem da dinheiro, usado para pagar dívidas de campanha.

Ao Estado, Glória Perez disse achar que o deputado deveria chamar para depor pessoas que tentaram a travessia da fronteira do México com os EUA. Ela afirmou que não recebeu convite do deputado ou da CPI. "Nem acho que vou receber parabéns pelo fato de a novela América ter trazido esse drama para a primeira página dos jornais quando assunto tão grave era completamente ignorado por todos."

A Rede Globo respondeu em nota que "responsabilizar a novela América e/ou a TV Globo por um provável aumento da imigração ilegal nos EUA seria como culpar a janela pela paisagem". Diz ainda a emissora que "a função de uma novela não é estimular nem desestimular a realidade, mas refletir sobre ela. A abordagem que a autora Gloria Perez vem dando ao tema já foi elogiada até mesmo pelo embaixador americano".

O deputado afirmou ainda que a CPI pedirá aos Estados Unidos o aumento do número de vistos legais de trabalho dados por ano aos brasileiros. O Brasil recebe 6 mil e as Filipinas, 45 mil. Disse ainda que proporá penas mais severas para agências de turismo e agenciadores de emigrantes ilegais. O trabalho da comissão termina no fim do ano. "Já há evidências muito fortes que nos levarão a tomar providências contra os envolvidos."

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