O relator da Organização das Nações Unidas (ONU) para o Direito à Alimentação, Jean Ziegler, critica a decisão do governo brasileiro de aprovar o uso de sementes transgênicas na produção agrícola. "Essa medida vai ajudar apenas aos grandes fazendeiros de Goiás", afirmou o especialista das Nações Unidas. A Lei da Biossegurança, que define critérios para pesquisa e plantio comercial de organismos geneticamente modificados e também regras para experiências com células-tronco entrou em vigor no dia 28.
"Pessoalmente, sou contra a aprovação", disse Ziegler, que em 2002 causou polêmica ao mostrar em um relatório a situação crítica que vive o Brasil em termos de nutrição. O relator da ONU, apesar de ser um dos principais defensores dos programas de combate à fome do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, acredita que ao permitir o uso de sementes transgênicas, o País estará criando novas dificuldades para os pequenos agricultores. "É verdade que os organismos geneticamente modificados podem dar mais resistência a uma semente diante de secas e pragas e entendo que o rendimento da plantação pode melhorar. Mas o meio ambiente sofre com esse uso de transgênicos e o pequeno agricultor ainda se torna dependente do uso das licenças e das autorizações que deverá conseguir das empresas que vendem essas sementes, como a Monsanto", afirmou.
Na avaliação de Ziegler, a nova lei no Brasil pode se tornar "mais um motivo de endividamento dos pequenos agricultores, que dependerão das grandes empresas para comprar suas sementes". Ele lembra ainda que em países como o Canadá vários casos de divergências entre as empresas que vendem as sementes e agricultores que se cansaram de pagar pelas licenças para usar os organismos geneticamente modificados chegaram à Justiça. "O pior é que a Justiça tem dado razão às empresas, obrigando os agricultores a pagar somas enormes", explicou.
Para o relator, a produção mundial de alimentos já é três vezes superior às necessidades de alimentação da população do planeta e não seria necessário o uso de transgênicos para combater a fome. "Esse argumento está errado."