Brasília (AE) – O relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) apresentará amanhã (28) um requerimento com pedido de quebra de sigilo bancário, fiscal e telefônico das agências de publicidade DNA e SMPB, de propriedade do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza.
Serraglio também solicitará que a CPI faça vistoria nas fazendas de Valério para verificar se os R$ 20,9 milhões sacados em espécie, entre julho de 2003 e maio deste ano, foram, realmente, para comprar gado, conforme alegou ele. Valério, cujas agências cuidam da publicidade dos Correios, deporá na comissão na próxima semana.
Serraglio admitiu que as investigações da CPI vão em direção à denúncia do presidente nacional licenciado do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ), de pagamento de mesada de R$ 30 mil para que parlamentares votassem com o governo. Segundo Jefferson, Valério seria o principal operador do "mensalão". O relator observou, no entanto, que a Câmara e o Senado analisam a instalação ou não de uma CPI específica para o "mensalão". "Nunca tivemos receio de avançar em torno do ‘mensalão’. Mas estamos aguardando uma decisão sobre essa CPI. Se isso não acontecer, vamos, naturalmente, investigar o ‘mensalão’", disse o relator. "Há muitos ecos que dão cada vez mais credibilidade ao discurso do Roberto Jefferson", completou.
Para o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ), os indícios de irregularidades nas transações feitas por Valério são grandes. "É muito dinheiro para comprar vaca e boi. Essa deve ser somente uma das fontes do ‘mensalão’. A corrupção nas estatais tem relação direta com o pagamento do mesada", afirmou o tucano. O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), defendeu que a denúncia do "mensalão" seja averiguada por uma CPI específica da Câmara. "Nenhum líder do Senado defende a tese de trazer para a CPI dos Correios a questão do ‘mensalão’. É um problema de decoro parlamentar de deputados", disse Mercadante.
Além da quebra de sigilo de Valério, a CPI também pedirá o relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) que mostra que entre 2003 e 2005 saíram R$ 16,5 milhões em espécie da conta da SMPB numa agência do Banco Rural, em Belo Horizonte, e outros R$ 4,4 milhões da conta da DNA, no mesmo banco e mesma agência. "Não é algo comum alguém sacar sei quantos mil reais por dia. Essa movimentação é inusitada", argumentou Serraglio.
Integrantes da CPI pretendem ainda convocar a direção do Coaf para, em sessão secreta, apresentar lista com os responsáveis pelos saques em dinheiro vivo acima de R$ 100 mil.
O PSDB pretendia solicitar hoje ao Ministério Público (MP) a indisponibilidade dos bens de Valério. O senador José Jorge (PFL-PE) protocolou hoje na secretaria da CPI dos Correios requerimento para que a comissão peça ao Ministério da Agricultura cópias de todos os atestados de vacinação e as guias de trânsito animal (GTA) emitidos para rebanhos de propriedade de Valério ou da mulher dele, Renilda Maria Santiago Fernandes de Souza. Com esses documentos, os integrantes da CPI pretendem ter um levantamento completo do tamanho do rebanho do publicitário e data em que o gado foi comprado.
Esta semana, os integrantes da CPI dos Correios ouvem o depoimento de oito pessoas supostamente envolvidas no esquema de corrupção da estatal, entre elas Jefferson. Serraglio adiantou que, provavelmente, os ex-diretores dos Correios – Antônio Osório (Administração), Eduardo Medeiros (Tecnologia) e Maurício Madureira (Operações) -, que deporão quarta-feira (29), serão, novamente, convocados para explicar contratos da estatal com as empresas de Valério. Os contratos ainda não foram enviados pelos Correios para a CPI e, por isso, Serraglio acredita que faltará elementos para inquirir os diretores da estatal.