O relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) afirmou hoje que pedirá ao Ministério Público (MP) o indiciamento do ex-deputado José Dirceu (PT-SP) e do chefe do Núcleo de Assuntos Estratégicos (NAE) da Presidência da República, Luiz Gushiken. O pedido de condenação de Dirceu será por tráfico de influência e corrupção ativa. No relatório final da CPI, que só deverá ser apresentado no dia 29, Serraglio proporá o indiciamento de mais de cem envolvidos no escândalo do "mensalão".
O indiciamento de Dirceu será pedido com base no depoimento do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), que o acusou de chefiar o esquema de pagamento de recursos a parlamentares para votar a favor do governo. Gushiken terá o pedido de indiciamento por supostas irregularidades em contratos de publicidade de estatais, que eram supervisionados pela Secretaria de Comunicação e Gestão Estratégica da Presidência, sob o comando dele. "Solicitamos o auxílio de dois delegados da Polícia Federal (PF) para definir direitinho a tipificação de cada um dos que vão ser indiciados", explicou Serraglio. "No caso do José Dirceu, existem fatos e testemunhas que o condenam" argumentou.
O advogado de Dirceu, José Luís de Oliveira Lima, qualificou de "despropositadas e fictícias" as declarações do relator da CPI dos Correios. "Nada foi apurado contra o ex-ministro. Essas afirmações são fruto da criatividade intelectual do deputado Osmar Serraglio", disse. Segundo ele, há informações de que o nome de Dirceu sequer será mencionado no inquérito sobre o "mensalão" a cargo do Supremo Tribunal Federal (STF). Por meio da assessoria, Gushiken também reagiu à proposta de Serraglio de indiciamento. "O relatório estará cometendo uma injustiça. São acusações levianas e infundadas", disse Gushiken.
Serraglio confirmou ainda que, no texto final, incluirá o nome do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O relator descreverá o episódio em que Lula foi avisado sobre a existência do "mensalão" por Jefferson. Na ocasião, o presidente pediu que o então ministro da Articulação Política e hoje presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), e o deputado João Paulo Cunha (PT-SP) tomassem providências e investigassem a denúncia.
No relatório final, Serraglio vai enumerar também as fontes dos R$ 55 milhões de recursos que abasteceram o esquema de caixa dois montado pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza. Uma das fontes do "valerioduto" teriam sido recursos desviados do Banco do Brasil (BB) por meio da Visanet. As investigações da CPI dos Correios não encontraram, no entanto, desvio de recursos de fundos de pensão para o esquema operado por Valério. "Não encontramos fundos de pensão alimentando o ‘valerioduto’", disse o relator.
A menos de um mês do fim da CPI, Serraglio afirmou que, antes de assumir a relatoria da CPI, "tinha uma outra visão" dos colegas de Parlamento. "Não sabia dessa promiscuidade, desse tráfico de influência. Decepcionei-me", afirmou o relator. Na segunda-feira (20), a cúpula da comissão reúne-se para definir a data de apresentação do relatório final. Inicialmente, a data prevista era a terça-feira (21), mas o trabalho atrasou.
