Relator da CPI dos Correios admite poupar Gushiken

A pressão do Palácio do Planalto sobre o relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), surtiu efeito e o ex-ministro Luiz Gushiken deverá ser poupado no relatório final da Comissão. Serraglio admitiu hoje que pretende desistir de pedir o indiciamento ao Ministério Público do atual chefe de Assuntos Estratégicos da (NAE) da Presidência da República. Na semana passada, o relator anunciou que iria propor a condenação de Gushiken, envolvido em supostas irregularidades em contratos de publicidade com estatais, na época em que comandava a Secretaria de Comunicação Presidência da República (Secom).

Uma das bases para o pedido de indiciamento era relatório feito pela Controladoria Geral da União (CGU), que apontava o envolvimento da Secom. Mas hoje Serraglio explicou que foi feito um novo relatório pela CGU, que exime Gushiken de conivência com eventuais irregularidades em contratos de publicidade. O pedido de reconsideração do indiciamento foi feito pelo próprio ministro Waldir Pires, da Controladoria, que telefonou para o relator e para o presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS). "Se me baseio em uma coisa (relatório) que não existe, vão dizer que estou desatualizado", argumentou Serraglio, visivelmente irritado depois de reunir-se com o presidente e sub-relatores da CPI. "Não tenho tempo para reunião Preciso trabalhar."

Às vésperas da apresentação do relatório final, prevista para a próxima terça-feira, Serraglio está sendo fortemente pressionado para mudar o texto. Além de não pedir mais o indiciamento do Gushiken, integrantes da cúpula da CPI defendem que o relator faça um relatório final enxuto, objetivo e sem adjetivações. "É inaceitável que o relatório venha cheio de adjetivos, como ocorreu com sub-relatórios apresentados antes. É possível fazer um relatório contundente, mas sem adjetivações", disse o relator adjunto, deputado Maurício Rands (PT-PE). Parlamentares que tiveram acesso ao texto de Serraglio contaram que ele faz citações bíblicas e até de partes do livro "Ensaio sobre a Cegueira", de José Saramago.

Depois da reunião com o relator, o senador Delcídio Amaral disse que o texto final de Serraglio vai passar por uma "filtragem" e que pontos do relatório deverão ser mudados. "O clima no Congresso é quente e evidentemente que isso também vai para a CPI dos Correios. Estamos preocupados em ter um relatório consistente para ser usado pela Polícia Federal e pelo Ministério Público", afirmou o presidente da CPI dos Correios. Ele começou a negociar com partidos aliados e de oposição a aprovação do relatório final. O petista teme que não se chegue a um consenso e a CPI termine sem a aprovação dos pedidos de indiciamento de envolvimentos no escândalo do mensalão.

"Se não houver relatório, os beneficiados vão ser os responsáveis pelo o que aconteceu porque não serão imputados em nenhuma responsabilidade judicial ou criminal", observou Delcídio. Integrantes da CPI dos Correios observam, no entanto, que os ânimos estão acirrados e que hoje há sérias dificuldades para a aprovação do relatório final. "Estamos nos empenhando para ter um bom desfecho. Mas todas às vezes que o governo quis exerceu a maioria tênue que tem na CPI", disse Rands.

Um dos motivos de tensão na Comissão é a decisão de Serraglio de pedir o indiciamento dos 19 deputados que tiveram seus nomes enviados para a Câmara por envolvimento no mensalão. Desses, sete foram absolvidos pelo plenário da Câmara, três tiveram seus mandatos cassados e quatro renunciaram. Faltam ainda cinco deputados para serem julgados, entre eles o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP), que se reuniu hoje com Delcídio e o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP).

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