Mesmo entendendo que o advogado Rogério Tadeu Buratti "mediu as palavras" na entrevista que deu ao jornal "O Estado de S.Paulo", na segunda-feira (10), o relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos, senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), viu uma nova revelação em relação ao contrato da Caixa Econômica Federal (CEF) com a multinacional Gtech. Na entrevista, pela primeira vez, Buratti acusa o ex-presidente da CEF Jorge Mattoso de ter sido consultado pela multinacional, logo no início do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sobre a melhor forma de se aproximar do então ministro da Fazenda, Antonio Palocci.
Alves disse ter achado a afirmação "estranha" por ter sido feita somente agora, quando a ligação com Mattoso não interessa mais a Palocci. "Em nenhuma das quatro vezes em que esteve na CPI, Buratti fez esta afirmação", afirmou. A revelação levará, novamente, o ex-presidente da CEF à CPI dos Bingos, que vota na próxima semana a aprovação do relatório que o convoca para depor.
Apesar da suspeita de que Buratti pode estar tomando partido em favor de Palocci e contra Mattoso, o relator disse que, a princípio, ele não será reconvocado mais uma vez. "Quem já o ouviu (Buratti), percebe que ele domina muito mais informação do que as que fala, mesmo na condição de testemunha voluntária da Justiça", alegou. "Daí porque vamos ouvir a sua ex e a atual mulher, Elza e Carla Cristina, pois quem sabe elas falam mais do que ele."
Para o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), a entrevista reforça a necessidade de a CPI promover a acareação do ex-ministro da Fazenda com o ex-presidente da Caixa, como propõe o requerimento de autoria dele. Dias disse ainda que, apesar da suposta intenção de Buratti de defender Palocci, ele reforça a tese de que o então ministro prevaricou, ao não denunciar a suposta oferta de propina da Gtech ao PT para facilitar a renovação do contrato com a Caixa Econômica para operação de loterias.
Já o líder do PFL no Senado, José Agripino (RN), sugeriu que a entrevista de Buratti desfez a imagem alimentada pelo PT de que a mansão no Lago Sul onde se reuniam os integrantes da chamada "República de Ribeirão Preto" – amigos, assessores e ex-assessores de Palocci – era "a casa dos prazeres". "Pelo que ele disse, era, sim, a casa de negócios." Os fatos citados, na avaliação do líder da minoria no Senado, José Jorge (PFL-PE), mostram que ainda há muito o que apurar com relação ao contrato da Caixa com a multinacional.
Na entrevista, Buratti relatou que a multinacional ofereceu um valor entre R$ 5 milhões e R$ 16 milhões para o PT, em troca da renovação do contrato com a Caixa, nos moldes desejados. De acordo com o advogado, Palocci rejeitou a idéia, mas a empresa, por fim, conseguiu o que queria.
"Eles buscavam um contato com alguém vinculado ao Palocci porque estavam buscando relações com o governo", contou Buratti, fazendo referência à Gtech. "A empresa relatou que eles mantinham contato, tinham dificuldade e queriam abrir as portas " Ele acrescentou: "Eles faziam propostas de colaborar com o PT (…) A proposta variava de R$ 5 milhões até R$ 16 milhões."
O integrante da "República de Ribeirão" confirmou ainda que Palocci freqüentava a mansão alugada em bairro nobre de Brasília – conforme havia revelado o caseiro Francenildo dos Santos Costa, o "Nildo", no dia 14. "Eu estive com ele lá, duas ou três vezes, junto com o Ralf (Barquete, ex-assessor da Caixa e amigo do ministro)", contou.