Na medida em que os escândalos político-administrativos e financeiros mais aparecem e as investigações se aprofundam, mais o governo se distancia do seu PT e a ele atribui a maior parte das responsabilidades. Lula, em especial, costuma jogar pedras no seu partido, dizendo e repetindo que é nele que devem ser procuradas explicações para negócios escusos descobertos, inclusive para o caso nebuloso do dinheiro (perto de R$ 30.000,00) que usou para si e sua mulher em viagens. Para o Banco do Brasil, teria sido um empréstimo pago pelo próprio presidente; para o ex-procurador de Lula, presidente do Sebrae, foi ele quem pagou a conta; e para Lula, não houve empréstimo nenhum. Houve sim um erro na contabilidade do PT.
O governo Lula era uma massa amorfa, sem ideologia, nem programas, porque formado por uma frente de agremiações políticas das quais o PT não era mais que a agremiação catalisadora. Entraram PL, PPS, PDT, PP, PTB, PMDB, PC do B e ainda outras siglas. Uma verdadeira sopa de letrinhas.
O próprio PT, sempre um partido ideológico de esquerda, com disciplina muito semelhante às agremiações marxistas, abandonou suas idéias e revelou-se vazio de programas, igualando-se, nisso, à maioria de seus novos aliados. Alguns deles já abandonaram o governo.
O ex-presidente do PT por oito anos, José Dirceu, tido e havido como o homem forte do governo, ao ser acusado de ser mentor e chefe do esquema do mensalão, disse publicamente que era ministro de Estado e poucas vezes compareceu ao partido. E, quando o fez, foi como homem do governo e não como correligionário.
Assim, temos de um lado, o do governo e, nele, dos petistas do situacionismo, a versão de que o que acontecia dentro do diretório nacional e dos diretórios estaduais e municipais da agremiação não poderia comprometer a administração Lula. Estariam, de alguma forma, divorciados, e os petistas do governo, totalmente separados de sua antiga ideologia e anunciados programas.
Já no PT, notadamente no diretório nacional, enquanto era seu presidente José Genoino, que acabou demitindo-se e sumindo, depois das denúncias do mensalão, a idéia era outra. O Partido dos Trabalhadores seria uma espécie de dono ou sócio majoritário do governo. Tanto que fechava questões, como fez na votação da reforma previdenciária, expulsando os membros, deputados e uma senadora, que ousaram votar em favor dos trabalhadores e contra a orientação do diretório.
Tarso Genro, que está presidindo o PT até que se eleja uma nova direção, e possivelmente será o novo presidente eleito, acaba de contrariar todas essas versões de divórcio entre o partido e o governo. Pelo contrário, disse que o PT era ?quase uma extensão do governo?, uma espécie de ministério sem pasta.
Para pôr as coisas em ordem, recomenda que as novas relações petistas com o governo sejam feitas ?por instâncias elevadas?, de forma institucional e com formalidade. Prega o fim das relações incestuosas que afirma terem existido e Lula, Dirceu e outros membros do governo vêm negando.
Tem razão Tarso Genro ao recomendar essas novas relações. E se as incestuosas que denuncia existiam, não há como inocentar o governo nos escândalos e empurrar a culpa toda para ao PT. Não há como dizer, seja no governo ou no partido, que não sabiam das maracutaias.