Reformas em Cuba

O novo presidente de Cuba, general Raúl Castro, irmão de Fidel Castro, seu mentor, tem surpreendido com pequenas, porém expressivas reformas que parecem indicar novos rumos para a revolução cubana. Essas reformas ainda não provocaram reações importantes nos Estados Unidos da América, que mantêm um longo boicote a ilha caribenha, mas já indicam aos cubanos e democratas esperançosos que alguma coisa está mudando. E para melhor.

A última reforma anunciada por Raul Castro é uma espécie de reforma agrária. Embora as facções de esquerda de todo o mundo lutem por mudanças em que a terra seja distribuída entre os que plantam ou podem plantar, acabando com os grandes latifúndios. A verdade é que em Cuba há apenas um grande latifúndio e o latifundiário é o governo. Socializada, a terra para a agricultura e criação de animais se mantém, em grande parte, inaproveitada, enquanto que na ilha há fome generalizada. Raúl acaba de decretar o uso das terras públicas por particulares, permitindo-lhes plantar e manter criações, o que naquelas paragens é uma revolução que bem pode ser denominada reforma agrária.

Outra providência do novo governo cubano foi abrir os hotéis de turismo, muitos deles de alto luxo e praticamente todos estrangeiros, ao uso de cubanos. Até aqui, esses hotéis e as lojas de produtos importados mantidas em seu interior eram acessíveis somente a estrangeiros. E ainda tinham de fazer os pagamentos em divisas fortes, não sendo aceito o peso cubano.

Como conseqüência, os cubanos, donos da terra, eram tratados como gente de segunda categoria, podendo quando muito e sob intensa vigilância trabalhar como empregados a serviço dos turistas. Agora passaram a ter o direito de também serem hóspedes, o que é um benefício quase nominal, pois a média salarial na ilha é da ordem de US$ 30, dinheiro insuficiente para que os cubanos aufiram os confortos dessa relativamente sofisticada hotelaria.

Ao que parece, Fidel não tem assistido passivamente a tais reformas executadas por seu sucessor e irmão, não poupando críticas, principalmente à liberação de produtos eletroeletrônicos como telefones celulares, televisores, DVDs, computadores e uma parafernália de outros bens duráveis que existem, mas além de proibidos em Cuba, lá eram e devem continuar sendo de difícil aquisição.

O que se diz hoje em Cuba é que Raúl, em apenas alguns meses, já fez mais e mais profundas reformas do que Fidel em 50 anos de ditadura.

O que já aconteceu em Cuba sob Raúl pode, na prática, ainda pouco significar, mas indica um rumo de abertura bastante alentador.

O próximo passo esperado e já comentado é a permissão para que os cubanos viagem para o exterior. Como se sabe, as viagens são proibidas e só ocorrem em eventos como disputas esportivas. O esporte é um forte elemento de propaganda do regime comunista de Cuba.

Também apresentações artísticas de cubanos têm servido ao objetivo propagandista do regime comunista, mas, tanto quanto no esporte, o governo cubano tem tido o dissabor de ver seus arautos propagandistas muitas vezes pedirem asilo nos países para onde são mandados. O Brasil, como outros países, já recebeu inúmeros desses pedidos de asilo.

O que parece é que a abertura democrática em Cuba, embora apareça por enquanto apenas em alguns setores, é um caminho sem volta. Isso não tem um significado muito expressivo em termos de ingresso de um novo país na economia ocidental ou um reforço à democracia do continente americano e do caribe, em razão da inexpressividade da ilha, um país com uma população que é mais ou menos a mesma da cidade de São Paulo. Mas tem um significado especial para a América Latina, onde o exemplo de Cuba e da revolução fidelista fez nascerem, um tanto tardiamente, governos rubros e potencialmente perigosos para a paz regional como o de Hugo Chávez, da Venezuela.

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