Há necessidade premente, porém não iminente, de que o Brasil tenha sua estrutura política reformada. A legislação, as práticas, os costumes, tudo o que está aí leva a um simulacro de democracia e enseja a malandragem quase generalizada. E tudo às custas da frustração de esperanças e bancado com dinheiro do povo. A reforma política começou a andar com a decisão do presidente da Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), e dos líderes partidários de que seja colocada em votação, incluindo os itens de financiamento público de campanha e a chamada lista fechada, que leva o eleitor a votar na legenda e não no candidato. São os partidos que estabelecem a ordem dos candidatos na lista.
Aparentemente seria o fim de eleições financiadas por empreiteiras e outras empresas interessadas em negócios com o governo. Financiando, fazem um agrado aos candidatos. Mais parece a compra de favores, o que acontece em muitos casos, como mostrou a Operação Navalha, que ainda está cortando cabeças de ministros a deputados, de altos funcionários a policiais corruptos.
Quanto a votar nos partidos e não nos candidatos, isso já foi decidido pela Justiça. Os votos pertencem às legendas e não aos candidatos e se esta regra estivesse de fato valendo, muitos dos que entraram nas casas legislativas com os votos de legenda, pois os seus foram insuficientes, estariam entregando os seus cargos. E entregariam também os vira-casacas, aqueles que, por interesses políticos, financeiros ou de outra ordem que não o público, mudam de partido a toda hora. Aceitam quem dá mais. E o eleitor, que votou no candidato de um partido que supostamente abraçava as idéias pregadas pela agremiação, é tapeado.
Alguém já escreveu que é mediocridade discutir pessoas e nobre discutir idéias. Assim, estaríamos fazendo, pela votação no modelo atual, escolhas que podem se transformar em mediocridades, pois escolhemos pessoas e não idéias. E não há nobreza na maioria dos partidos, pois eles não passam de siglas sem ideologia ou programa, dispensáveis ou trocáveis na primeira oportunidade em que o político vislumbra alguma vantagem.
Pois a reforma que desengavetam faria o milagre da moralização com o financiamento público das campanhas e o voto nas listas partidárias fechadas. Antes que todos aplaudamos esse passo que, se vier a ser dado, é coisa de primeiro mundo e não de republiqueta como acontece com a atual estrutura e legislação políticas brasileiras, atentemos para uma grossa malandragem que está embutida no projeto.
Pelo novo sistema eleitoral pretendido pelos deputados há a garantia aos atuais deputados federais, estaduais e vereadores de que terão direito a encabeçar as tais listas de candidatos partidários. Isso equivale a uma espécie de reserva de mercado e garantia de reeleição para quem já está nos cargos. Assim, fazendo a reforma política, estarão eternizando-se em seus mandatos e o eleitorado, querendo ou não, estará sempre sufragando-os. Será a institucionalização das panelinhas.
Quanto aos demais brasileiros que queiram ser candidatos, terão de figurar, quando conseguirem, no final das filas com menores ou até nenhuma chance de se elegerem. Entram na briga com desvantagem, sem o guarda-chuva protetor que os deputados já estão previamente abrindo para lhes garantir futuros mandatos. Assim, não será uma reforma política, mas sim um golpe na já precária democracia brasileira.