Reforma agrária e eleições

Há mais de uma organização reivindicando a reforma agrária e mobilizando os sem-terras. A principal e mais conhecida é o MST, promotor de invasões de terras privadas e públicas, pacificamente ou com violência. Também a tomada, à força, de prédios urbanos públicos ou mesmo de estabelecimentos bancários. Os líderes do MST têm deixado claro, se bem que não declarem, que seu objetivo não é a reforma agrária. Ou somente a reforma agrária, que é bandeira e pretexto para o seu fim precípuo: a tomada do poder, presumindo mudança no regime político. Muitos estão certos de que seria de extrema esquerda.

Nas eleições, a estratégia de estimular “candidaturas camponesas” não é seguida pelo MST. “Nunca deliberamos isso como linha política. O MST não interfere, não impede nem estimula as candidaturas, afirma o seu coordenador nacional, João Pedro Stédile. “É necessário e urgente – diz ele – desenvolver novos espaços de participação política do povo. Eles são muito mais importantes do que apenas eleger candidatos e achar que eles resolvem alguma coisa.” Para Stédile, seus dirigentes devem voltar-se para a reforma agrária. “Nossa deliberação é apenas que os dirigentes e militantes que tenham responsabilidades estaduais e nacionais evitem concorrer a cargos, para que priorizem as atividades relacionadas com a reforma agrária.”

O MST busca uma revolução. Parece muito claro que seus líderes usam a reforma agrária como bandeira, mas o que de fato desejam é a tomada do poder e a mudança do regime político.

Na política brasileira, “a classe dos trabalhadores rurais é muito numerosa, mas pouco representada na política. É necessário levar a demanda pela reforma agrária e por créditos à agricultura familiar para os municípios”, diz Manoel José dos Santos, filiado ao PT há 24 anos e presidente da Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura). A Contag tem uma linha diversa da do MST e de outros movimentos de sem-terras mais radicais. Quer a reforma agrária e não a mudança do regime político e aceita buscá-la pela via democrática, daí porque, só nas eleições municipais deste ano, tem nada menos de 907 candidatos a prefeito, vice-prefeito e vereador.

Seu eleitorado em potencial é muito numeroso. As chamadas representações dos agricultores, hoje existentes também no Congresso Nacional, as bancadas ruralistas, são compostas de grandes fazendeiros, empresários do setor e não de sem-terras ou pequenos proprietários. Essas bancadas ruralistas chocam-se de frente com a reforma agrária na forma pregada pelo MST e outros movimentos afins.

É interessante de se notar que muitos dos candidatos da Contag ao pleito deste ano estão filiados a partidos conservadores. Nada menos de 22% são filiados ao PFL, PP e PMDB. “Nós não indicamos esses partidos”, diz o presidente da Contag, Manoel José dos Santos. “Mostramos que eles estão na contramão da idéia dos trabalhadores rurais. Mas respeitamos a relação do indivíduo com o partido, sem perseguição.”

Já Pedro Stédile, coordenador nacional do MST, diz que “nossa deliberação é apenas que os dirigentes e militantes que tenham responsabilidades estaduais e nacionais evitem concorrer a cargos, para que priorizem as atividades relacionadas com a reforma agrária”. Parecem nítidos os dois caminhos: o revolucionário e o democrático, optado pela Contag.

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