A sociedade tem mecanismos muito peculiares de controle para que todos sigam o mesmo padrão de conduta. Um casal de namorados sempre provocará em alguém o incontrolável desejo de formular a famosa pergunta: E o casório, quando sai? Vendo os pombinhos recém-casados, sempre haverá uma tia de plantão bisbilhotando: E o herdeiro, quando vem? E quando o casal está conseguindo escapar de um turbilhão de fraldas e mamadeiras, aquela vozinha sentenciará categoricamente: filho único fica mimado, tem que ter mais um! Só depois que o casal estiver devidamente casado e com, no mínimo, dois filhos para criar é que os conselheiros da vida alheia terão um pouco de sossego. E nem poderia ser diferente, porque estarão com a vida bem parecidinha com a de todo mundo.

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A vida não é um filme que acaba quando tudo fica bem. Ao contrário, depois das festividades há uma vida inteira para ser vivida, com um dia após o outro, sempre muito parecidos. Com o tempo, casamentos ganham contornos quase definitivos. E nem sempre as coisas são como gostaríamos que fossem, pois existe a vida ideal e a vida que a gente leva.

Mas sempre haverá uma cunhada que jura ter a vida que pediu a Deus, com marido perfeito e filhos maravilhosos. Embora todos saibamos que não existe vida ideal (ainda bem), não vamos criticá-la, porque é preciso sempre acreditar nas apostas que fizemos. Afinal, acabamos sempre pagamos o justo preço por elas. O problema está em conseguir identificar quando essas apostas ainda dão lucro ou apenas se transformaram numa fonte inesgotável de prejuízo.

Penso que a pergunta providencial seja: gosto da pessoa que sou ao lado do meu cônjuge? Evidentemente que, para respondermos a essa pergunta, teremos que abandonar a tentação de satanizar o parceiro como sendo o responsável por tudo o que somos, mas não gostaríamos de ser (o que é difícil porque uma das funções neuróticas mais adequadas para nossos amados é justamente a de assumir esse papel). Se a resposta, contudo, for ainda positiva, não há dúvida de que se deve prosseguir no relacionamento porque a auto-imagem está preservada. E se for negativa? Muda-se de vida ou, mais fácil, muda-se de assunto, esquecendo-se da pergunta feita.

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Sarcasmo à parte, não devemos nos esquecer de que a essência humana está baseada sobretudo nas crenças porque deixar de acreditar nos causa sempre tristeza e um sentimento de desencanto em face da vida. Todavia tomar a decisão correta, equacionando o binômio realidade-ilusão, é o que nos instiga e desafia diariamente.

 Djalma Filho é advogado

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