“Entre o cafezal e o sonho, o menino pintou uma estrela na parede da capela. E ninguém mais segura a mão pintora. A mão cresce e pinta” (Carlos Drummond de Andrade). “Não me venham falar em adversidade. A vida me ensinou que, diante dela, só há três atitudes possíveis: enfrentar, combater e vencer” (governador Mário Covas). O verso e a frase, além de expressarem a vida, obra, coragem e legado desses dois grandes homens, suscitam inevitável analogia com a saga do jornalista Roberto Marinho, que a eles se uniu na saudade de todos os brasileiros.

É desnecessário, claro, falar sobre a obra extraordinária de Roberto Marinho, no campo do jornalismo impresso, da televisão, do rádio e do terceiro setor. Todos conhecem e percebem, em seu cotidiano, os resultados do trabalho que realizou, transformando a comunicação em vetor do conhecimento, da cultura, do entretenimento, da educação e, em particular, da identidade nacional. Particularmente, porém, tive a oportunidade de conhecer de perto a seriedade de propósitos, a competência e o entusiasmo sincero da Fundação Roberto Marinho na execução de seus projetos. Refiro-me, de forma específica, ao Telecurso 2000, que tem parceria com o Senai-SP, do qual fui presidente do Conselho Regional. Conhecer de perto esse projeto, participar dele e perceber seus resultados concretos significou compreender muito melhor a dimensão ampliada que Roberto Marinho conferiu à comunicação.

Pessoas como Marinho, Covas, Drummond são parâmetros para os brasileiros. Sua vida e obra são testemunhos de que o trabalho, a perseverança e a formação de gerações mais cultas e capacitadas são capazes de mudar o mundo para melhor. Seu legado demonstra que a crença na necessidade de disseminar o bem comum, muito além da mera retórica da filantropia, produz resultados, tem impactos efetivos na inclusão social, na educação, na assistência à infância, na saúde.

Estes exemplos solidificam-se na mente dos brasileiros, quando se constata, eleição após eleição, o estigma de imobilismo do setor público diante da realidade. Parecem repetir-se, em Brasília, os problemas vividos nos governos anteriores. A despeito das boas intenções do ex-presidente e do grande empenho de Luiz Inácio Lula da Silva, a política econômica, como já ocorria em outros governos, patinou e patina na recessão, na comodidade do controle monetário, na falta de ousadia para crescer e criar alternativas de contingência diante da miséria para gerar emprego e renda. As reformas, tão reclamadas, não foram realizadas nos governos anteriores e, tudo indica, ainda enfrentam sérias dificuldades para se viabilizarem.

O desemprego aumenta, a produção industrial cai, o comércio estagna-se. Está estabelecido o círculo vicioso da recessão. Confunde-se, mais uma vez, autoridade com autoritarismo, permitindo-se o abuso nas invasões de terras e propriedades urbanas, fator que assusta investidores estrangeiros e conspira contra os índices do risco-país do Brasil. Discursos, contudo, proferem-se em profusão. Tudo se diz, nada se faz.

É inegável o esforço do governo Lula para manter o controle da inflação e criar condições à retomada do crescimento. Não se trata de uma crítica contundente à atual administração, mas de um alerta sobre o caráter endêmico do vírus do imobilismo. Por isso, é necessária uma reforma política no Brasil, contemplando compromissos mais sérios dos homens públicos com as plataformas das campanhas eleitorais e com o conteúdo programático de seus partidos. Afinal, aquele vírus, invisível à sociedade, mas de efeitos nocivos, parece ter seu caldo de cultura numa estrutura política ainda viciada no jogo dos interesses pessoais e de grupos.

Tudo muito diferente do jornalista Roberto Marinho e outros brasileiros que, na iniciativa privada ou no governo, tinham a dimensão real do público, do bem comum e, mais do que isso, conseguiam transformar idéias em ações concretas. Por isso, seu referencial precisa estar cada vez mais vivo na consciência da Nação.

Max Schrappe é presidente da Confederação Latino-Americana da Indústria Gráfica (Conlatingraf). Também é vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo.

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