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É legítimo o desejo, não expresso, mas evidente, do presidente Lula de querer se reeleger. Várias seriam as razões a sustentar tal ambição. Em primeiro lugar, a reeleição é legítima. Seu antecessor logrou dois mandatos. Depois, é de se considerar que o dirigente petista foi por quatro vezes candidato, só logrando agora chegar à Presidência da República. E não foi uma ascensão comum, pois ele é um político incomum, no sentido de que vem da classe operária e o seu partido sempre procurou representar os trabalhadores e não a burguesia, os militares ou mesmo a intelectualidade, os quais sempre vinham exercendo o poder no Brasil.

Por último, consideremos que Lula foi um candidato de esquerda, proclamando-se socialista e que prometia uma reviravolta na maneira de governar. E, para isso, teve um amplo respaldo de votos nas urnas.

Acontece que a reeleição está em risco, por causa da descaracterização do governo. Ele passa do comando dos trabalhadores para uma híbrida coligação, não dispensando nenhum apoio e até brigando pelos que está ameaçado de perder.

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O custo das alianças pode levar o governo Lula a não se diferenciar dos demais que o povo rejeitou nas últimas eleições presidenciais. Pode frustrar a justa ambição da nação pelas mudanças prometidas e se dedicar ao exercício do poder pelo poder. Enquanto isso, a oposição se reorganiza, levanta as mais importantes bandeiras e pode acabar reconquistando o governo.

Há ainda outra ameaça, que é a política econômica praticada pelo ministro da Fazenda, com inteiro respaldo de Lula. Referimo-nos à política de altos juros, sob o pretexto de segurar a inflação e de entesouramento para pagamento da dívida externa, produzindo cada vez mais altos superávites e admitindo diminutos investimentos. Essa política é contestada até pelo vice-presidente e hoje ministro da Defesa José Alencar; por boa parte do PMDB e, agora, até pelo ministro da Casa Civil, José Dirceu, tido e havido como fidelíssimo auxiliar de Lula, e considerado o "primus inter pares" do ministério.

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Sempre correram boatos de que havia no governo uma luta intestina entre José Dirceu e Antônio Palocci, ambos lutando pela posição de homem forte da administração. O episódio Waldomiro Diniz, que criou suspeitas contra Dirceu, de quem o assessor e achacador foi amigo, companheiro e auxiliar, fez com que o chefe da Casa Civil recuasse, enquanto Antônio Palocci ganhava força. Sem mais as obrigações de coordenador político do governo, Dirceu recebeu a incumbência, nunca executada, de uma espécie de gerente do ministério.

Agora, José Dirceu deixa clara sua oposição a Palocci e à política que vem imprimindo na economia nacional, declarando que gostaria de voltar a ser o coordenador político e que Lula corre o risco de não conseguir reeleger-se em razão da política econômica. O ministro-chefe da Casa Civil entende que, sem mudanças de rumos, a oposição poderá vencer em 2006, pois o PT está perdendo terreno para o PSDB na classe média.

No mais recente encontro do diretório nacional do PT, Dirceu foi autor da proposta de aumento real do salário mínimo. Lula, de imediato, mandou estudar o novo mínimo. Se isso não é uma escolha de Dirceu como predileto do presidente, em detrimento de Palocci, é pelo menos um agrado para mostrar que ele ainda tem força no governo.

Informa-se que, em conversa privada com Lula, José Dirceu disse que se sente "desconfortável" no governo e manifestou vontade de retomar a articulação política. Quer ser o patrocinador da reeleição que a política econômica estaria ameaçando.