O presidente Lula não acabará com a fome no Brasil com o seu projeto Fome Zero. Nem vai diminuí-la de forma sensível, já que o programa prossegue a passos de tartaruga. Faltam recursos materiais, estratégia, organização.
Mas reconheçamos no presidente o mérito de haver despertado a nação para a questão, fazendo com que todos os brasileiros, mesmo os que a ele se opõem, vissem que há um grave problema de pobreza neste País e que ele chega ao inadmissível, que é a existência de milhares de famílias, inclusive crianças, passando fome.
Lula teve o mérito de despertar a nação para o problema e levá-lo ao resto do mundo como preocupação que deve ser prioritária em todas as nações, inclusive as ricas. Na ONU, o objetivo de reduzir a pobreza pela metade foi incluído em seus Objetivos do Milênio. Kofi Annan, o secretário-geral, é sensível aos problemas da má divisão de riquezas no mundo, da pobreza e suas conseqüências, dentre as quais está a fome de milhões de pessoas. Recebeu as instâncias de Lula contra a fome como preciosa colaboração à meta de reduzir a pobreza do mundo pela metade até o ano de 2015. E, como a fome é o mais agudo dos males da pobreza, levou em consideração o Fome Zero, mesmo sendo um projeto que quase não saiu do papel.
Se Deus escreve certo por linhas tortas, é visível que o mundo está escrevendo errado por linhas erradas, mesmo proclamando objetivos corretos. Na África há doenças, incompetência e guerras. O mundo chamado de desenvolvido e rico tem falta de boa vontade, como diz o autor principal do estudo da ONU, o economista americano Jeffrey Sachs.
O documento completo ainda será publicado, mas sabe-se que ele indica caminhos contrários ao assistencialismo, à benemerência, às esmolas, às ajudas graciosas, à caridade para reduzir a pobreza e, em conseqüência, a fome.
O relatório cobra um grande aumento nos gastos com o desenvolvimento e mudanças nas condições do comércio entre países ricos e pobres. Ele pede maior volume de investimentos em obras de infra-estrutura nos países pobres, a fim de que possam se tornar mais competitivos. O documento apela por mais idéias desenvolvidas em conjunto, de maneira que os países mais pobres possam montar estratégias de redução da pobreza factíveis e que possam ser financiadas. Enfim, o documento é o inverso das idéias que inspiraram o Fome Zero e ajusta-se aos novos conceitos de gerir uma nação como o Brasil, hoje abraçados timidamente pelo governo Lula.