Campos do Jordão, a 175 quilômetros de São Paulo, é uma cidade que quer estar na Europa. Do clima à arquitetura, a inspiração estrangeira atravessa mares e ali faz lembrar as residências típicas da Alemanha, Suíça e França. Entretanto, dentro de um condomínio da cidade serrana, num dos pontos mais altos da região, uma casa parece até ?urbana? de tão diferente. Enquanto suas vizinhas próximas seguem a toada do estilo europeu, o projeto de Marcelo Rosenbaum redefine o conceito de ?campestre?, à luz da arquitetura modernista.
Reta, dividida em dois pavilhões e erguida num terreno de declive agudo, a casa de quase 500 metros quadrados de área construída surgiu de uma conversa entre amigos. ?Conheço a proprietária há anos, e vim até aqui conhecer o terreno que ela havia comprado… Na volta, paramos para almoçar e desenhei um croqui num guardanapo, um esboço do que poderia ser feito no lugar?, conta Marcelo. ?Ela gostou tanto que topou construir na hora, daquele jeito?. E foi assim que as conversas (e as obras) evoluíram, a despeito do medo inicial de misturar amizade com negócios.
Marcelo Rosenbaum não entra em choque com o ?espírito? da cidade de forma gratuita. Aliás, sua arquitetura está além da surpresa gratuita. Basta notar a construção em si, o equilíbrio entre as transparências e as vedações, entre o que pode e deve ser exposto e o que precisa ser protegido dentro do imóvel. Todos os cômodos de estar ?observam? a área verde externa, bem como os quartos. Cozinha e lavanderia estão do lado menos agraciado com o sol (e a paisagem), mas recebem luz por meio de aberturas verticais, como os vitrôs retangulares em seqüência instalados no corredor. Assim, o primeiro acerto de Marcelo diz respeito à direção da construção: os dois pavilhões da casa formam um T, onde os espaços importantes se concentram na área ensolarada, de frente para as fachadas de vidro. De quebra, um horizonte de tirar o fôlego ao lado da janela. ?Há um pensamento modernista na construção desta casa… E há a proporção de cubo, os blocos setorizados e a padronização dos materiais?, diz.
O arquiteto escolheu estrutura de madeira (cumaru), que também aparece nos detalhes da construção, na tesoura que segura o telhado e na caixilharia. O terreno revolvido fez surgir um segundo platô, onde hoje fica o gramado que circunda toda a extensão da casa, aproveitado ainda para firmar as estruturas do bloco dos dormitórios, em dois andares – um deles só para a suíte do casal. A vedação foi pensada para dar conta do frio intenso. Assim, entraram em cena painéis de vidro (na Penha Vidros) e, no bloco onde estão os quartos, painéis retráteis se alternam entre madeira (execução de painéis da J. S Barbosa) e vidro.
Entretanto, é a pedra típica da região a que tem mais destaque nesta casa de campo (pedra-madeira, da Pedras Progresso), como revestimento das fachadas e no projeto da escada entre os dois pavilhões, que comunica a varanda externa ao gramado, mais abaixo, ela realmente se sobressai na paisagem. ?Fiz questão que a casa tivesse materiais locais. É um desenho moderno, mas a madeira, a pedra e o vermelhão no piso são homenagens ao interior do Brasil?, realça Marcelo Rosenbaum. Além dos destaques do arquiteto, as paredes internas também homenageiam o rústico, com caiação simples, sem reboco.
Do jeito de um loft
O corredor interno, largo, que leva aos quartos e ao home theater, também conduz à suíte do casal. Descendo as escadas, luminárias instaladas próximas aos degraus e embutidas na parede apontam o caminho a quem passa. Já na suíte, há entradas para o banheiro e o quarto. A parede que divide os espaços não se fecha totalmente, o que cria uma circulação ?periférica?. ?Esta parte da casa lembra um loft… Quis que ela fosse realmente diferente com uma organização espacial marcante?, reforça Marcelo. Portas duplas de correr, uma feita de vidro e outra, de cumaru, alternam-se no fechamento frontal da suíte, regulando a entrada de luz. No banheiro, revestido totalmente de cerâmica, a banheira fica alguns degraus abaixo, instalada no próprio piso.
Cortinas são fundamentais para o sombreamento dos cômodos. Na sala de estar, que conta com uma lareira (da Construflama), o tecido branco balança com o vento. Nos quartos, o algodão é substituído por material mais pesado, chenille escuro (da Cinerama) e há carpete (da By Kamy, sob consulta). ?Assim não é preciso utilizar aquecedor em dias de frio?, garante o arquiteto. (AE)