As principais entidades envolvidas com a agricultura de 30 municípios do Norte do Paraná comemoram os excelentes resultados obtidos no ano de 2005, com o recolhimento superior a 90% das embalagens vazias de agrotóxicos do volume adquirido e consumido na região. O problema agora é que do percentual restante fazem parte os agricultores familiares, que podem ser multados pela destinação ou procedimentos incorretos e perderem a condição de réu primário por crime ambiental.
Iniciada na safra agrícola de 1997/98 por iniciativa pioneira do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural de Cambé, depois de diagnosticar elevada quantidade de embalagens de agrotóxicos jogadas em carreadores e riachos, instalou no lixão sanitário local um depósito exclusivo, para o recolhimento com a entrega direta feita pelo produtor rural, lembra o engenheiro-agrônomo Alcides Bodnar, da Emater, instituto estadual vinculado à Secretaria da Agricultura e do Abastecimento. ?A consolidação de resultados mais efetivos, com metas definidas e abrangência ampliada, se deu a partir da criação da Associação Norte Paranaense de Revendedores Agroquímicos, a Anpara, em 1999?, destaca Bodnar.
A Anpara, que integra 50 associados dentre empresas e co-operativas, atua em 30 municípios com 36 pontos de coleta, tem uma central de recebimento, localizada na estrada da Prata, km 6, de 7 mil m2 para abrigar 400 toneladas de embalagens, processadas em três grandes galpões. Até fevereiro, a área coberta aumenta em 1.100 m2, ?vindo facilitar o recebimento, processamento e armazenamento?, assegura o engenheiro-agrônomo Irineu Zambaldi, gerente da entidade.
Após o recebimento, as embalagens vazias são processadas em lotes para reciclagem especial na produção de novos materiais de uso não domiciliar, seja humano ou animal. Os plásticos prensados e empacotados vão para uma indústria de Maringá. O papel de rótulos e papelões de caixas seguem destino para Guarapuava. Alguns plásticos específicos e tampas, vão para o Rio de Janeiro e as partes metálicas, com destino à Piracicaba, SP. Todas as demais embalagens contaminadas são destinadas a incineração em Suzano e Guaratinguetá, ambas em São Paulo e Barra Mansa, RJ. O custo do transporte é arcado pelas indústrias de produtos fitosanitários, através de verba específica administrada pelo Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (Inpev).
Para atingir a totalidade dos produtores rurais, em especial os agricultores familiares que fazem uso de uma até 20 embalagens, as entidades vinculadas à cadeia agrícola da região estão unidas na realização de ações educativas, que vão desde a emissão da nota fiscal de compra do agrotóxico, receituários agronômicos, panfletos técnicos das diversas instituições até eventos teóricos e práticos de capacitação. Querem mudar o hábito do pequeno e médio produtor rural que ainda fazem uso da queima delas na propriedade ou as armazenam de forma irregular.
No campo, a Emater atua direto com o produtor ensinando-o a tríplice lavagem. É o caso de João Paulo Wasciki, 27 anos, do Sítio Alvorada, de 14,5 hectares, localizado na Comunidade Mimoso, em Cambé, que adquiriu 20 litros de agrotóxicos para utilizar nos 5 hectares de soja que cultiva nesta safra. Wasciki, que vem fazendo exames há mais de 8 anos para monitorar o nível de contaminação de agrotóxico no seu sangue, só faz aplicação com total proteção e já está alertado pelo extensionista Bodnar que providencie a entrega das embalagens vazias, que guarda na propriedade, dentro do prazo de no máximo um ano.
Antes da pulverização da lavoura de soja, ele recebeu orientação prática da tríplice lavagem visando descontaminar as embalagens utilizadas, fazendo o esgotamento de todo o conteúdo até a última gota no tanque, para em seguida adicionar água limpa até ¼ da embalagem, fechando e chacoalhando forte durante 30 segundos e em seguida despejando a água da lavagem no tanque do pulverizador. ?Ele tem que repetir essa tarefa três vez e depois perfurar o fundo da embalagem sem danificar o rótulo?, recomenda Bodnar.