O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, homem profundamente experimentado nos embates políticos e ideológicos, dos quais começou a participar na época em que presidiu o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, atividade que o credenciou a fundar o Partido dos Trabalhadores e disputar por quatro vezes seguidas as eleições para a Presidência da República, não deveria sentir-se livre de amarras dentre elas a consciência -para demonstrar tamanho desapreço com o passado recente e acusar a oposição de agir pensando na sucessão de 2010.
Ora, uma análise superficial da caminhada histórica do PT rumo ao poder, com a espetacular eleição de Lula em 2002, depois de três tentativas frustradas, nada mais é que o exemplo de superação e espírito de luta de um grêmio democrático organizado necessariamente para disputar e conquistar o poder pelo voto direto.
Trajetória ascendente iniciada com a eleição dos primeiros e raros vereadores, prefeitos e deputados e governadores de alguns estados, até o extraordinário feito das duas eleições de Lula para o cargo mais importante da República.
Durante todo esse tempo o PT sempre esteve na oposição e, é de conhecimento geral a tenacidade que sempre exibiu nas lutas travadas contra os ocupantes da presidência, desde Fernando Collor. Se ao PT foi assegurado o legítimo direito de fazer oposição aos governos passados, decerto com a viseira sempre posta nas eleições subseqüentes, porquanto essa foi a meta definida no programa partidário, há algum fundamento respeitável em negar aos oposicionistas de hoje a mesma prerrogativa institucional?
A julgar pelo tom emocional carregado de irritação dos últimos discursos do presidente Lula, nos quais a verborragia tem descambado para o terreno da demagogia, a primeira impressão é que a sofrida militância do atual chefe do governo nas lides oposicionistas, terreno em que se notabilizou como crítico contumaz dos governantes de turno, não o habilitou a acatar com espírito democrático as manifestações contrárias oriundas da oposição e, tampouco a competência para retornar ao poder.