Um recém-criado regimento especial do Exército britânico se envolveu na operação que causou a morte do brasileiro Jean Charles de Menezes no dia 22 de julho, informou hoje o jornal The Guardian. O diário também publica novos detalhes sobre o incidente no qual Menezes foi alvejado por engano com sete tiros na cabeça e um no ombro numa operação policial antiterrorismo.
Fontes do governo britânico revelaram que o Regimento Especial de Reconhecimento, criado em abril passado para ajudar no combate ao terrorismo internacional, foi empregado na operação de vigilância que levou à morte de Menezes.
Segundo essas fontes, os soldados desse regimento, que foi inspirado numa unidade secreta que operava na Irlanda do Norte, se envolveu em "trabalhos de inteligência de escala menor nos bastidores" quando Menezes foi alvejado. Elas acrescentaram que não houve "envolvimento militar direto" do regimento no momento em que o brasileiro foi morto.
Segundo o jornal, essa parece ser a primeira vez que esse regimento foi empregado numa operação. Ele absorveu a 14ª Companhia de Inteligência, conhecida como 14 Int, uma unidade à paisana criada para coletar inteligência sobre os suspeitos de terrorismo na Irlanda do Norte. Seus recrutas são treinados pela SAS. O ministro da Defesa, Geoff Hoon, disse que a unidade foi formada para atender a uma demanda mundial pela "capacidade especial de coleta de reconhecimento".
Segundo o Guardian, Menezes foi seguido após sair de um prédio de três andares contendo nove apartamentos, chamado Corfe House, em Tulse Hill, zona sul de Londres. A polícia suspeitava que o prédio abrigava suspeitos de terem alguma ligação com os ataques terroristas de 21 de julho. Menezes vivia no primeiro andar, juntamente com duas primas, Vivian e Patrícia.
Após sair do prédio, o brasileiro foi seguido enquanto pegava um ônibus da linha 2 com destino a Stockwell. Vários agentes à paisana também entraram no ônibus durante o trajeto. Mas, segundo o Guardian, as autoridades não comentam a possibilidade de que esses agentes fossem integrantes do regimento do Exército.
Outros policiais seguiram o ônibus em carros. Quando ficou claro que a estação de metrô de Stockwell era o destino provável de Menezes, uma equipe de policiais armados também à paisana foi acionada. Segundo o jornal, esses agentes dispararam oito tiros contra Menezes após ele ter corrido para pegar um trem.
A imprensa britânica já havia noticiado que a operação foi comandada via rádio da sede da Scotland Yard pela comandante policial Cressida Dick. No jargão policial, era ela a "Gold Command" das operações antiterrorismo na capital britânica naquele dia.
A comissão independente (IPCC) que apura o comportamento da polícia no incidente deverá investigar o papel do regimento na operação e também assuntos relacionados à falsa identificação do brasileiro. A comissão quer saber também se as imagens das câmaras de vídeo dos suspeitos de colocarem os explosivos no dia anterior já estavam disponíveis para os policiais.
Outro ponto a ser esclarecido pela comissão é saber por que foi permitido que Menezes, que na visão da polícia era suspeito de ser um homem-bomba, entrasse num ônibus. Nos ataques terroristas de 7 e 21 de julho, dois ônibus foram alvo de explosivos.