Rebeldes chechenos mantendo centenas de reféns num teatro em Moscou ameaçaram hoje começar a matar os cativos ao amanhecer deste sábado caso o governo russo não retire suas tropas da Chechênia, enquanto o Kremlin apressava-se a encontrar uma contra-oferta que evitasse um banho de sangue.

Depois de reunir-se com o presidente Vladimir Putin, o chefe do Serviço de Segurança Federal, Nikolai Patrushev, prometeu que a vida dos seqüestradores será preservada se eles libertarem os reféns.

Putin garantiu que ?a preservação da vidas das pessoas que permanecem no prédio do teatro? é sua preocupação maior. Mas, fora o breve comunicado de Patrushev, a estratégia do Kremlin é uma incógnita, e Putin já prometeu no passado que não manterá negociações com rebeldes chechenos a menos que eles se desarmem e abandonem sua busca pela independência.

Os cerca de 50 captores fortemente armados têm dito que estão prontos para morrer e levar com eles um número estimado de entre 600 e 800 reféns caso suas exigências não sejam atendidas, e eles repetiram hoje que só negociarão com um representante de Putin.

Daria Morgunova, uma porta-voz do musical que estava sendo apresentado quando os rebeldes invadiram o teatro na noite de quarta-feira, disse à Associated Press que um ator entre os reféns telefonou para ela para informar que os seqüestradores ameaçaram começar a matar os cativos ao amanhecer. Ela disse ter recebido o telefonema duas horas antes da declaração de Patrushev.

Ao avançar a noite, várias figuras influentes entraram no teatro numa tentativa de negociar com os seqüestradores, entre elas o ex-premier Yevgeny Primakov, o deputado Aslanbek Aslakhanov, que representa a Chechênia no Parlamento russo e é desprezado pelos rebeldes que o consideram um marionete do Kremlin, e Ruslan Aushev, o ex-presidente da Inguchétia, uma região vizinha da Chechênia.

Primakov reuniu-se com Putin e com o prefeito de Moscou, Yuri Luzhkov, no Kremlin após sua conversa com os captores, e informou que os assaltantes só aceitam negociar com um representante do presidente. Aushev disse temer que eles tomem ?medidas extremas?.

Outro mediador que entrou no teatro foi Anna Politkovskaya, uma repórter do jornal independente russo Novaya Gazeta admirada na Chechênia por suas críticas à guerra na região. Mais cedo, a repórter convencera os seqüestradores a aceitar a entrega de água e comida quente para os reféns.

Os rebeldes libertaram hoje 19 pessoas, entre elas oito crianças, mas não cumpriram a promessa de deixar sair os estimados 75 estrangeiros.

As crianças, entre elas uma suíça, pareciam saudáveis ao deixar o prédio acompanhadas por integrantes da Cruz Vermelha. Sete adultos haviam sido libertados mais cedo e quatro cidadãos do Azerbaijão tiveram permissão para sair mais tarde.

A esperança de um grande avanço na solução da crise surgiu na manhã de hoje com a notícia de que todos os reféns estrangeiros seriam libertados, mas autoridades disseram que as negociações foram suspensas e as horas passaram sem progressos. Entre os reféns estão americanos, britânicos, holandeses, australianos, canadenses, austríacos e alemães.

Um denominado ?centro de operações?, sob o comando de Putin, foi criado para responder à crise, mas não estava claro qual era sua função. O vice-ministro do Interior, Vladimir Vasilyev, disse a agências de notícias que não houve sucesso na tentativa de se contatar Aslan Maskhadov, um líder rebelde que foi presidente da Chechênia entre a retirada das tropas russas em 1996 e a retomada da guerra três anos depois.

?O líder do ato terrorista é Maskhadov. A ação foi organizada com a participação dele?, garantiu Vasilyev na televisão, enquanto eram mostradas imagens visando corroborar sua acusação.

Nas imagens feitas aparentemente em meados de junho, Maskhadov diz que os rebeldes mudaram de uma guerra de guerrilha para uma estratégia ?ofensiva?, e acrescentou: ?Estou certo de que na última etapa vamos promover uma ação inédita, como a jihad, e essa operação irá libertar nossa terra dos agressores russos?.

Reféns ofereceram por telefone relatos distintos sobre suas condições no teatro.

?Estamos seguros e bem, o teatro está aquecido e temos água e não existe nada mais que precisamos numa situação como essa?, disse a refém Anna Adrianova à Rádio Ekho Mosky na manhã de hoje. Outro refém relatou que a situação era tensa e que os cativos não tinham recebido água nem comida e estavam usando o fosso da orquestra como banheiro.

Os rebeldes, segundo os reféns, espalharam bombas por todo o teatro.

Um grupo de cerca de 80 pessoas promoveu um protesto contra a guerra no lado de fora. Vários disseram estar atendendo pedidos de parentes entre os reféns.

Vasilyev advertiu que nenhuma manifestação não-autorizada será tolerada.

?Vocês podem interpetrar isso como um aviso para os cabeças quentes que querem agitar paixões. Se algo assim ocorrer, vamos agir com determinação?, avisou.

O Ministério da Comunicação retirou do ar hoje uma estação de tevê por sua cobertura da crise de reféns e também impôs medidas disciplinares contra outros meios por transmitir declarações dos rebeldes. O vice-ministro da Comunicação Mikhail Seslavinsky explicou que a tevê Moskovia foi tirada do ar por ?flagrante violação? da lei.

Outras estações de tevê deixaram de cobrir a crise 24 horas por dia, como ocorreu no início. A tevê estatal RTR intercalou as notícias com a apresentação de filmes patrióticos da era soviética.

Também hoje, autoridades identificaram o corpo de uma mulher que foi morta a tiros dentro do teatro, a única morte conhecida na crise até agora. Ela foi identificada como Olga Romanova, que vivia no bairro do teatro. Não foi determinado por quê ela foi morta. (AE-AP)

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