O presidente Lula fez um discurso memorável no seminário sobre fundos de pensão, realizado no Rio de Janeiro, na semana passada. Pode-se dizer que a fala do chefe da nação foi um misto de entusiástico realismo e a utopia de um líder de esquerda, preocupado com o social. Ex-líder sindical, função da qual partiu para a conquista de posições políticas até chegar ao extraordinário feito de assumir, por eleições livres e larga maioria, a Presidência da República, Lula falou da evolução do movimento sindical. Evolução que deverá se dar, mas ainda não aconteceu. Lembrou que quando liderava o sindicato dos metalúrgicos a ação das organizações dos trabalhadores se expressava por reivindicações salariais e greves nas portas das fábricas. De lá para cá, o mundo evoluiu, globalizou-se e hoje aponta, para os sindicatos e outras organizações coletivas de trabalhadores e profissionais liberais, caminhos outros, senão excludentes de suas funções originais, complementares e, em certa medida, até mais importantes.

Na opinião do presidente, os sindicatos devem integrar o mercado, ter dinheiro, formando fundos de pensão com o objetivo de obter ganhos e influir no desenvolvimento do País e do mundo. Exemplificou com um grande fundo que pudesse, por exemplo, reunir os advogados do Brasil, formando um enorme bolo de dinheiro capaz de participar ou mesmo ter a maioria de empresas, gerar lucros e, com isso, complementar as aposentadorias de seus cotistas. Lembrou o presidente que, como líder do PT, foi contra privatizações com a participação de fundos de pensão, mas que hoje reconhece que, na maioria dos casos, tais operações deram certo. Rememorou a posição xenófoba de lideranças de trabalhadores, que, imaginando a possibilidade de criar um banco com dinheiro dos sindicatos, rejeitavam o dinheiro de quem não pertencesse à categoria. Repulsa que hoje se mostra injustificada e preconceituosa.

Lula, ao provocar a discussão da criação de muitos e grandes fundos de pensão no Brasil, dá uma partida importante na corrida para transformar o Brasil, que parece uma bicicleta ergométrica, na qual se pedala sem sair do lugar, em uma bicicleta móvel, que vá para a frente. E ande também com o dinheiro poupado pelos trabalhadores e que será, afinal, utilizado para complementar suas aposentadorias.

Houve no discurso do presidente petista uma justificável dose de utopia. Ele admitiu que os fundos de pensão dos trabalhadores devem visar lucros e até considerou isso indispensável, sob pena de não garantirem os ganhos futuros esperados pelos seus contribuintes. Mas adicionou que, pertencendo a trabalhadores, num país de grandes carências, deveriam orientar parte de seus recursos para obras sociais. E aí, comumente, somem os lucros financeiros, quando não surgem grandes prejuízos e inviabiliza-se a complementação das aposentadorias. Ganham-se apenas benefícios sociais para o país, um bem de valor inestimável, mas que se choca com os objetivos dos fundos de pensão. Estes têm de ter sempre em vista o objetivo do lucro, pois precisam cuidar da sua finalidade precípua, que é a assistência futura dos fundistas-trabalhadores. O social deve ser atendido por outras fontes, pois a poupança dos trabalhadores terá de garantir a complementação de suas aposentadorias, fim de difícil consecução e que não permite desvios de benemerência.

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