Rio – O álcool disparou em janeiro e elevou a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para 0,59%, ante 0,36% em dezembro. A taxa foi praticamente igual à de janeiro do ano passado (0,58%). Mesmo após o acordo fechado entre o governo e os produtores em 11 de janeiro, o álcool combustível abriu o ano como a principal pressão sobre as despesas das famílias, com aumento de 9,87%.
O IPCA é referência para as metas de inflação do governo e veio um pouco acima da média das previsões dos analistas de mercado (0,56%) para a taxa do mês, mas não provocou mudanças na previsão de corte de 0,75 ponto porcentual na taxa básica de juros em março, o que reduziria a Selic para 16,5% ao ano.
O álcool respondeu, sozinho, por 0,11 ponto porcentual do IPCA, o maior peso no cálculo. A gerente do Sistema de Índices de Preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos, disse que, apesar do forte impacto do produto na inflação de janeiro, ainda não é possível afirmar que houve um fracasso no acordo fechado entre os produtores e o governo.
Segundo ela, embora a coleta de preços do IPCA tenha ocorrido entre 29 de dezembro e 27 de janeiro, ou seja, inclua um período significativo após o fechamento do acordo, é possível que o aumento de preço do produto captado na taxa de janeiro tenha incorporado ainda repasses de reajustes anteriores.
O preço do álcool, que havia registrado queda no início de 2005, passou a subir com vigor em outubro (10,48%), mantendo alta em novembro (2,52%) e dezembro (4,53%). Com a alta do produto em janeiro a gasolina, que tem álcool como parte da composição, subiu 1,19%.
Apenas quatro itens pesquisados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) responderam por mais da metade (0,30 ponto porcentual) do IPCA de janeiro (0 59%): além do álcool e da gasolina, ônibus urbanos (1,82% de aumento) e plano de saúde (1,89%).
Eulina destacou também o aumento de preços de serviços como condomínio (1,81%), conserto de veículos (1,05%) e recreação (1,19%). A alta nos preços de serviços preocupou analistas de mercado como Marcela Prada, da Tendências Consultoria. Para ela, "apenas a manutenção de reajustes elevados nos preços de serviços sinaliza algum risco para o cumprimento da meta (de inflação do governo, de 4,5% em 2006) caso este comportamento sinalize uma tendência para o ano".
Por outro lado, os alimentos, que contribuíram para conter a inflação no ano passado, continuam cumprindo esse papel neste começo de ano. A alta dos produtos alimentícios desacelerou de 0,27% em dezembro para 0,11% em janeiro, com queda de preços em itens importantes para a despesa das famílias como tomate (-26,98%), cebola (-9,38%), frango (-3,60%), carne (-2,77%) e leite pasteurizado (-1,93%).
Em fevereiro, segundo Eulina, a principal pressão para o IPCA será dada pelas mensalidades escolares, já que o IBGE faz a captação integral dos reajustes das mensalidades em fevereiro. Ela disse que a pressão das mensalidades poderá ser de tal magnitude, como ocorre anualmente, que venha a representar o mesmo papel que o álcool teve na inflação em janeiro.
Marcela Prada avalia que a inflação em fevereiro "deve apresentar uma redução apenas modesta". Ela projeta uma alta de 0,50% para o IPCA do mês por causa das mensalidades escolares, enquanto a pressão dos combustíveis "se reduzirá significativamente", já que o preço do álcool está estável. Para ela, apesar da alta inicial, o cenário para a inflação em 2005 "é muito favorável" e, a partir de março, a taxa deverá recuar para variações mensais em torno de 0,30%.